Que o tempo avance...


O tempo desacelerou, por instantes, para que eu pudesse sentir a verdadeira dimensão das horas, e a tanta vida que nelas se consegue ajeitar.

A cidade partiu para sítio incerto, levando o rio com ela, deixando-me sozinho com um avião estacionado na lembrança, convidando-me a visitar os tantos mundos desconhecidos que eu trago no meu peito.

As absolutas certezas revelaram-se vulnerabilidade, e apenas perceções, apagando as formas, o estranho ou errado, e os padrões… porque um beijo pode matar, e a distância, uma forma sublime de dizer o amor, se assim se cumprir o privilégio de ler, entender, e cumprir os corações.

Os sorrisos dos meus amigos foram tomados por pedaços de pano, os beijos adormeceram puxando os abraços para dentro do mesmo sono, os cafés arrefeceram, os passos sucumbiram a um estranho cansaço, abandonando as praias e o luar das noites perfeitas...

O meu pai adormeceu por entre o calor de uma noite estranha e indesejada de verão, ensinando-me que os trilhos da fé nos reencaminham, em coerência, o olhar para o Céu, porque nós, os da brigada do Ressuscitado, sobrepomos aleluias ao doloroso sortilégio da tanta saudade.

O tempo...

Que avance agora, renovado e claro, florescido sobre o “adubo” deste ano ruim, reacendendo-nos a esperança na rima de versos inéditos, e docemente irrequietos, cantados por entre abraços na margem de todos os rios e nas ruas das muitas cidades que existem dentro e fora de nós.

Como quem não se permite morrer, não deixando ninguém partir, com o grito na cor exata que nos confidencia a liberdade, e com as horas a transbordarem da matéria nobre de cada um dos sonhos, não vá acontecer que um desses minutos que deixamos órfão e vazio, seja aquele que nos trará a eternidade.

 

Um muito feliz 2021 para todas(os).

 

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