Bica, pastel de nata, imperial, bom peixe e descontrolo orçamental.

Sempre encarei o regresso de férias com um sentimento misto de lamento pelo fim das ditas e pelo fim dos dias bons de descanso em sítios diferentes dos do meu dia-a-dia, e também de conforto por dar resposta à vontade de voltar que a bendita saudade lusa sempre provoca em nós.
Abrir a janela pela manhã e ver o azul do Atlântico, sair de casa e sentir o nosso calor de verão, comer um simples peixe grelhado acompanhado de batatas e legumes temperados com azeite e vinagre, comer uma açorda de coentros acompanhada por uma posta de pescada e um ovo cozido, tomar um café dos nossos, e, quando podia e não era diabético, acompanhar o café com um valente pastel de nata, essa verdadeira maravilha da doçaria cá do burgo, que não tem igual por esse mundo fora, tratar a cerveja por imperial e acompanhá-la de um prato de tremoços, comprar “A Bola” e saber as últimas notícias do Benfica, poder falar ao telefone com os amigos sem estar preocupado com o maldito “roaming” e as suas taxas elevadas, conseguirmos sem entendidos sem deixar de falar na língua de Camões, acertarmos no caminho daqui até ali sem ter de aturar a voz metálica do GPS …
Tudo isto faz parte do meu conforto no regresso a casa e, pastel de nata à parte por motivos de saúde, acho que já me reencontrei com tudo o resto.
Por ter estado alguns fins-de-semana fora da pátria sem ter quaisquer contactos com jornais, revistas, rádio ou televisão aqui da nossa terra, o que confesso, me agradou sobremaneira, eis que hoje decidi abordar o sábado fazendo a minha actualização, mergulhando no sofá repleto das publicações que habitualmente me fazem companhia.
Não há surpresas.
Está tudo igual ao de antes: o BPN continua um problema, o memorando da troika é a nova Bíblia de onde emerge o mandamento maior que nos manda pagar impostos e, toda a gente se anda a escutar ilegalmente através de serviços que se dizem secretos mas que de secretos têm afinal apenas o nome.
Foi rápida então a minha actualização no regresso ao mundo das notícias de Portugal de tal forma que tive a sensação de que aqui nada muda. Infelizmente, digo eu.
Mas é bom estar de volta.
Soubéssemos nós governar-nos e Portugal, com bicas, pastéis de nata, imperiais e bom peixe, seria de facto o paraíso.
Menos mal que nos resta o conforto do estômago para nos manter viva a alma.

Comentários

  1. Olha que bom que regressaste! Já tinha saudades de te ler! :) E sei que foi muito bom!
    Dizemos muitas vezes quando regressamos de férias: "É muito bom poder sair, mas é tudo poder voltar às nosssas coisinhas..." bj

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