Os poetas e a Luz


Nunca conseguirei entender porque colocam o busto dos poetas à porta das bibliotecas. Eles permanecem vivos nos detalhes da alma que deixaram impressos, e que descansam por ali nas prateleiras, abandonados ao pó do tempo. Mais do que as flores colocadas na base polida de uma pedra sob o bronze do seu retrato, os poetas celebram-se em cada palavra que lemos e sentimos nossa.

Também jamais conseguirei entender o porquê de ornarmos as igrejas com lâmpadas mais ou menos coloridas, e o porquê de acendermos velas pelos altares. Se Deus é a Luz maior, nós seremos sempre os recetores dessa graça. Ninguém se lembrará de levar um balde de água fria para oferecer ao rio ou à fonte.

Sentado junto a uma das mesas da esplanada quase vazia, em frente à Matriz de Ponta Delgada, vou desfolhando a memória e semeando versos que entrego à brisa que passa por aqui, correndo desde a encosta do vulcão, e na direção do mar.

Os poetas estão vivos e voam agora com as gaivotas, cruzando a claridade. A cruz foi apenas um brevíssimo instante, e o Céu é esta casa eterna de sorrir, não com os lábios, porque quem tem fé sorri com o coração.

Os versos dos poetas voam entrelaçados na Luz de uma segunda-feira de ressurreição.

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