Paralelos ao sol


Quando caminhamos paralelos ao sol descobrimos infinitas linhas informais que alinham os nossos passos com a melhor “caligrafia” do sonho e da vontade. Nus, sem roupas, compromissos ou cintos que nos “atem”, somos apenas nós e a nossa história.
Tempero a manhã fria com o aroma do café que pinga, paciente, desde o filtro de papel e a cafeteira de vidro. Para lá da janela, o vento vai, aos poucos, roubado o ouro que o Outono ofereceu a um velho plátano, enquanto o Atlântico se mantém convictamente azul entre a curva da Caparica e o Cabo Espichel.
Calei a rádio. Já não tolero o relato dos banquetes dos poderosos sobre a dolorosa e jazente morbidez da gente, famosa ou não, já sepultada ou em vias de o ser.
A mediocridade dos intérpretes não acompanha a elevada expectativa dos entusiastas e cegos militantes das ideologias, e eu sinto desprezo pela patética figura destes últimos na hora de defenderem os dejetos, reconhecendo-lhes um “indiscutível” valor, aproveitando para, de caminho, cuspirem sobre a liberdade e a justiça que a sustenta.    
Um Homem poderá parecer maior se tentar esconder-nos o sol para que nos foquemos na sua sombra distendida sobre as colinas, mas o que restará dele perante o cansaço dos efeitos especiais e dos jogos artificias de luz?
Nada, ou muito pouco, sobre a aridez dos caminhos que definem, definitivamente, a ilusão.
A fama é volátil e depende do hiato de luz derramado sobre a dor e a pequenez.
Apenas o coração permanece, dentro do corpo e deste olhar nu que mira o Outono e navega sem medo nas linhas que o sol define sobre o espaço… e o tempo.
Sou eu, o sim, o não e a minha liberdade.
 

(Agradeço a foto ao meu amigo Gil Reis)

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