Vítor


Debruçadas nos parapeitos das varandas rasgadas sobre a ousadia, as palavras dos poetas, íntimas dos cravos e das sardinheiras, esperam, incessantes, por uma voz que as beije e as faça voar com os pássaros, dobrando sem medos, as esquinas de todas as ruas.
Talvez a voz se aproxime quando a guitarra já tiver acordado o coração, e a saudade, irrequieta, já nos tiver salgado o rosto, colando-nos à pele a fome dos abraços, bem mais dolorosa que a sua homónima relativa ao pão.
Quantas palavras de tantos poetas correrão então pela cidade, e quantos rostos, corpos, trejeitos, quanto choro, riso, quantas gargalhadas, o gesto igual, normal, anormal, diferente… tudo espreitará no palco, que é o que mais se assemelha a uma rua, por poder ser a casa de toda a gente.
Vítor é a arte que resgata do silêncio as palavras dos poetas, e é a poesia toda: dita, respirada, soletrada, mastigada, deglutida, incontida, de corpo inteiro e despida de medo e preconceito.
Como o eco doce que nasce de um incansável amor, nós seremos sempre o seu aplauso, esse músculo cardíaco que bombeia sangue e oxigénio na vida do ator.
Vítor de Sousa, muito obrigado.

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