First family...


Na antecâmara do verão, os últimos dias foram os mais longos do ano, e aqui desde a janela que nomeei “guarita norte” da minha humilde casa, vou espreitando esta luta dos dias, que recusam render-se à noite, por entre as batalhas que tingem o céu de fogo e de cores quase impossíveis.
Era tão bom que todos aprendêssemos a rezar assim, sem fórmulas pré-escritas e reconhecendo Deus na liberdade…
Mas estes também têm sido os dias das gaiolas, com os meninos enjaulados a cruzarem os seus olhares de medo com as grades de ferro e arame em que alguém os fechou. O maior pecado do mundo é cometido por quem troca o mel pelo medo no olhar dos meninos.
Numa recente visita a Washington vi à venda postais com a foto da “First Family”. “Shame on you Mr Trump”, apetece-me dizer. Os primeiros são aqueles que tratam os outros na coerência da dignidade que reclamam para si próprios, sendo deplorável que a “Primeira família” não pratique a regra da “família primeiro”.
“Eu não consigo ver essas imagens e desligo a televisão”, confessou-me uma colega no outro dia antes de voltar a pegar no assunto das férias, a sua maior preocupação por agora que o sol brilha de forma intermitente.
Estes são os dias das gaiolas e também da indiferença.
Eu quero lá saber se o mundo morre, se afinal, Albufeira continua viva e à minha espera.
Olho mais uma vez para o céu de Junho e aprecio-lhe os tons rosa e azul.
Não sei porque é que às vezes insistem chamar-me poeta, se é coisa que eu definitivamente não sou.
Se fosse aquilo que me chamam, eu tomaria do firmamento todos os seus detalhes, daria três passos para trás, respiraria fundo enquanto tomava inspiração e músculo, para ao melhor estilo do Cristiano Ronaldo, fazer com que o mundo ultrapassasse todos os muros e se “encaixasse” no sítio certo.
Embora não pareça, no meio desta nossa apática complacência, ainda persiste o certo e o errado, sendo que o primeiro será sempre aquilo que garante a dignidade.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O MUNDO MAIS BONITO E CONFORTÁVEL NUM TEMPO A CHEIRAR A FLORES

“Quando mal, nunca pior” ou a inexplicável rendição à mediocridade

TESTAMENTO DE UM ANO COMUM