As rugas e a lua cheia...


Por instantes pensei que o passeio de Carlos da Maia e João da Ega ardera definitivamente com o Chiado, permanecendo apenas nas palavras escritas de Eça de Queiroz e nas memórias das tardes em que eu próprio imitara os heróis de “Os Maias” no meu trajeto muito pessoal entre a Bertrand e a Ferin.
Perante o coração de uma Lisboa queimada era difícil imaginar que tudo voltaria a ser como antes, talvez porque facilmente nos esquecemos que os Homens, as árvores e as cidades são iguais na hora de se reinventaram, perfurando o chão das cinzas com a força de novas raízes e alicerces.
Aproveitando a brisa do fim da tarde, ontem mesmo subi como quem voa pelos telhados de Lisboa, para espreitar a lua num terraço do Chiado.
A lua brilhará sempre sobre todos os despojos do fogo, desmentindo que as cinzas sejam o destino de uma cidade... e dos Homens.
As rugas são ruas que nos marcaram a face a ponto de dor, mas que se desmancham quando sorrimos com a mesma convicção da lua cheia.
Trinta anos depois das cinzas, Lisboa sorri comigo, com o Maia e o Ega, porque o fogo que importa é aquele que não se vê, que não queima e que permanece com a força de um querer imenso.

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