Viver


Por vezes, quando me adjetivam de “estranho”, nem se dão conta de que eu apenas me esforço por cumprir o meu compromisso de liberdade.
É verdade, trago-o comigo com intensidade entre os pedaços de barro encarnado, agarrado à pele queimada pelo sol e ressequida pelo vento de todas as estações.
Entre o mundo e um palco, ou entre mim e uma sombra, jamais deixarei de me escolher a mim e à Terra, mesmo que nos seus mais recônditos e imprevisíveis detalhes.
Viver não é esperar pelo tempo da reforma sentado num sofá confortável e com um copo de politicamente correto na mão, muito quieto para não entornar o estatuto e porque os punhos de renda atrapalham o gesto que acompanha o sorriso Monalisa, que não é sim nem não.
Viver não nos permite desprezar os aeroportos de onde partem os aviões para os quais o coração nos “comprou” bilhete.
Neste tanto do que sou, e do que quero, existirão detalhes mais modernos ou não, opções aceites ou não pela maioria, mas sou assim, e, legitimamente, espero dos outros reciprocidade na tolerância que lhes ofereço e que é um traço assumido de carácter.
Um democrata não chama imbecis aos que não pensam como ele, uma pessoa tolerante e inclusiva não atira pedras sobre as expressões da fé e da religião dos demais, só para vos dar dois exemplos. Caso contrário, a vida é um imenso baile de burgueses ditadores travestidos de “tolerantes” na farsa de um fugaz carnaval.
Viver é ser cúmplice do sol e não ter interruptores nem áreas de repouso que suspendam, nem só por um instante, o nosso compromisso de liberdade.
É a esse compromisso a que ofereço corpo e forma de palavras, enquanto acaricio as árvores, mestras de vida, guardando-lhes as memórias entre as minhas próprias memórias e agendas.
Um forte abraço e até para a semana, se Deus quiser.

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