Às portas de Jerusalém


Os pássaros virão ao fim da tarde, e escreverão em voo, salmos sobre a nossa espera, com a tinta negra das suas asas que parecem ler-nos a prece.
A morte é este repouso breve, doce e anónimo no longo Vale dos Reis, aguardando Deus, que regressará para entrar triunfante pelas portas douradas, levando-nos com Ele até ao Céu.
Nenhuma cidade terá tanto de Céu quanto Jerusalém, sendo também, e estranhamente, a geografia da morte dos profetas.
Nas pedras gastas de Jerusalém há o eco de mil palavras de Deus, por entre o grito da sua dor, e da nossa dor, quando cravejados de balas por termos acreditado que o poder dos Homens partilha o trono com Deus.
É sábado em Jerusalém e eu visito o túmulo do Rei David depois de colocar a Kipá sobre a cabeça, sinalizando que Deus estará sempre sobre mim.
Sobre mim e sobre a minha espera, que todos somos passageiros sentados nos vales ao redor de Jerusalém.
Há homens que rezam ali, na Sinagoga, numa língua tão estranha, quanto os gestos que antes pude contemplar no templo ortodoxo.
Nenhuma cidade terá tanto de Céu quanto Jerusalém, e às suas portas, com a cumplicidade dos pássaros negros, nós somos almas incansáveis entoando salmos e apressando Deus, servindo-nos de quantas palavras e quantos gestos conhecemos:
- Vem Senhor Deus, esperamos-Te às portas de Jerusalém.


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