Conceição


Por mais que a vida insista puxar o inverno, quem nasceu para ser abril nunca deixará morrer a primavera, em si e em todos os seus.
E a Conceição foi e será sempre um abril de cravos vermelhos, liberdade, frontalidade, honestidade e vida, muita vida, sorvida até à última gota dos dias todos.
Quando nos conhecemos eu ia fazer trinta anos, e tinha acabado de entrar na Pfizer, trabalhávamos com o Pedro Caeiro, nosso colega, e para além das tarefas que enfrentávamos com orgulhoso profissionalismo, íamos partilhando a vida, naquele caminho que começa onde somos colegas, e depois já não termina, porque pelo meio nos fizemos grandes amigos e nos fomos dispersando pelas coisas mais bonitas do mundo.
Fui lá colher essa foto, reparando que na mesa está também o meu saudoso amigo Dr. Pedro Marques da Silva, que partiu há pouco, e de quem guardo as melhores memórias.
Nos últimos anos, é verdade, eu e a Conceição afastámo-nos um pouco por detalhes infinitamente tontos perante a dimensão de quem se quer.
Íamo-nos espreitando pelas janelas do Facebook e felicitando nos anos ou no Natal.
Um dia haveríamos de nos juntar para esclarecermos tudo com a delicadeza própria do cristal, iluminados pela amizade, e, quiçá, por um pôr-do-sol de Lisboa.
“Tu sabes que eu sou feita de cristal, e muito sensível”, repetia-me.
Não houve tempo para nos sentarmos à mesa de um café ou subirmos a um miradouro da Cidade Branca, e de eu lhe pedir desculpa, reconhecendo que, afinal, e contra todas as casmurrices que me caracterizam, não há dia em que em mim não brilhem detalhes dessa sua primavera, onde o otimismo são flores, o riso é o sol, e a liberdade é este Tejo imenso que beija a cidade e procura o mar sem temer quaisquer horizontes.
Até sempre, amiga Conceição, vamos falando entre as sardinheiras mais garridas e o voo das gaivotas, porque por aí será o teu céu.
Um beijo

 

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