Prece dos Homens sozinhos


Na cruz que os meus passos desenham ao encontrar-se, nos ladrilhos da varanda, com o silêncio, há sementes que saciam o melro. Foram trazidas pelo vento do Sul quando os sinos rezavam o meio dia...
Louvado sejas, Senhor do Pão que não falta.
Por sobre a penumbra dos templos, no repouso das catedrais, emerge ao amanhecer, o eco dos púlpitos nos gestos da gente, o “passeio” dos sacrários e destas ermidas que somos, simples, de sangue e alma, em procissão de vida nas casas, e por todos os recantos de nós...
Louvado sejas, Senhor do coração dos Homens.
As praças não estão vazias, apenas adormeceram, aguardando, solenes, a hora dos abraços reforçados pela vontade que a quietude deste estar só lhes impõe...
Louvado sejas, Senhor da esperança.
A primavera não morreu nem nos traiu a sorte, e nas rosas em botão da quietude destes nossos dias guardados, permanece a essência e a cor que a reinventará intensa e eterna...
Louvado sejas, Senhor da fertilidade das horas.
Na vereda em pedra que sobe para Jerusalém, a multidão de santos anónimos alivia a dor e o pó, sustentando a essência de ressurreição, e devolvendo os sepulcros à solidão.
Louvado sejas, Senhor da Páscoa.
A palavra certa ainda voa como se fosse gaivota, o amor não desistiu de nos oferecer um banco junto à lareira, a noite permanece um instante, as mãos das mães, em corpo ou memória, continuam a afagar-nos a fé, as cidades apenas descansam, e os rios, ainda que à distância, continuam a cumprir-nos a poesia...
Louvor a Ti, Senhor, e novamente a Ti, por Tua Mãe, Maria.

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