Lições do lado de cá da porta...


#FicaEmCasa
Lá fora, deliciosamente, o sol insiste destapar as linhas de todos os lugares a que chamamos nossos, e quase achamos perverso, o sentimento de lhes associarmos o medo.
Como se o imprevisível não existisse, traindo-nos o sossego, e o bonito não pudesse carregar em si milhões de beijos bomba?
Estamos sentados na sala da casa de Vila Viçosa e assistimos à missa transmitida via YouTube, diretamente da igreja de Nossa Senhora da Conceição.
Eu e os meus pais, com a minha mãe a perceber finalmente que uma pessoa em Nova Iorque ou na Austrália poderia estar a seguir a celebração ao mesmo tempo que nós.
Se não fossem estes dias, como saberíamos atribuir real valor àquilo que por ser tão nosso, quase lhe chamamos banal?
Prometo que jamais chamarei rotina ao ato de sair de casa, tomar a bica e seguir alegremente, caminhando para o castelo, até à igreja.
Se não fosse o dia de hoje, como poderia a minha mãe entender que o mundo já não tem tanto de impossível quanto ela pensava?
Faço a foto e apercebo-me que em cima da mesa pequena, ao lado do PC, ficou um desenho do meu sobrinho Luís, que se entretém a fazê-los sempre que por aqui vem.
Há dias assim, que nos ensinam a puxar o sol para dentro de casa, usando as cores que habitualmente nos destapam o mundo real, para desenharmos sobre as folhas em branco do silêncio e da solidão, o planeta perfeito que cumpre todas as nossas vontades.
Todos os dias trazem lições.
Lições do lado de cá da porta.
 


 

 
 

 

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