Os frutos e as flores


Em Vila Viçosa, sempre que a missa das 11.30 horas em S. Bartolomeu chega ao fim, é a amizade forte e de muitos anos que nos convoca para a pretexto de uma bica, nos juntarmos e em pouco mais de meia hora, matarmos saudades, e na conversa e na partilha reforçarmos os laços que nos unem desde os primeiros anos de vida, e sem os quais não sabemos e não queremos jamais viver.
Ontem foi como sempre, assim. Descemos a Praça e resolvemos trair o habitual Café Restauração, assentando arraiais numa pequena pastelaria que fica junto ao Posto de Turismo, a qual literalmente ocupámos, pois também se juntam os pais, os filhos, os sobrinhos, etc, todos aqueles que de alguma forma estão ligados a nós.
E nós somos o melhor grupo de amigos de que há memória no universo.
Mais perto ou mais longe, estamos todos a preparar-nos para a passagem da primeira para a segunda metade de século das nossas vidas. Ontem foi a Lurdes Duarte que pagou os cafés pois no último 15 de Abril fez glamourosamente essa passagem.
Com as mesmas raízes na pátria Calipolense, todos temos vidas diferentes em lugares diferentes: estamos empregados ou desempregados, solteiros ou casados, com filhos ou sem eles, somos monárquicos ou republicanos, de esquerda ou de direita…
Mas o que nos une mais do que tudo, é a fé, em Deus, em nós e na vida, expressa sempre por aquilo que a fé tem de melhor e relevante, e que é um extraordinário gosto por viver e pelo que é positivo.
Até podemos falar dos problemas mas é sempre na perspectiva de juntos “darmos cabo” deles e voltarmos rapidamente a fazer o que melhor sabemos: rir.
Rir de nós próprios e rir para a vida.
Fazemos do riso, os foguetes da festa de estarmos vivos e gostarmos de o estar.
Ontem quando olhava à minha volta apercebi-me de que estamos todos fantásticos e com um aspecto de fazer inveja a um grupo de estrelas de Hollywood em noite de entrega de Óscares. Ficam-nos bem os quilitos a mais oferecidos pelos anos de bem comer, as ténues rugas reforçam-nos a felicidade dos rostos e as cãs dão-nos um extraordinário ar de respeitabilidade.
Estamos a “amadurecer” com classe e com muita graça, perdoem-me a imodéstia.
Comparados connosco, os nossos “eus” aos dezoito anos, cheios de certezas a emergir dos nossos corpinhos secos e enxutos embrulhados à moda dos anos oitenta, eram terrivelmente menos interessantes.
Antes de entrarmos na pastelaria não resisti a fotografar uma das muitas laranjeiras que enfeitam a nossa Praça e dão nome a este Pomar. Partilho essa foto aqui convosco.
Carregada de frutos mas já inundada de flores brancas e de intenso perfume a anunciar uma nova leva de laranjas.
Nós e as laranjeiras.
Os frutos e as flores.
O presente e o futuro.
Ou o segredo para nunca nos deixarmos morrer.

Comentários

  1. Ontem não estive lá, mas imagino a imagem, porque orgulhosamente faço parte desse grupo! E é uma imagem bem bonita! E concordo a 100% que estamos óptimos, lindos, maravilhosos!

    ResponderEliminar
  2. De facto revitalizamos cada vez que nos encontramos. Falamos de tudo: de nós, dos outros, das nossas memórias, daqueles que nos são queridos, ... enfim histórias e mais histórias.
    Como verdadeiros "Sementes de Esperança" nestes encontros queremos renascer, queremos estar unidos apesar da distância,queremos continuar a fazer parte daquele Tronco que é Deus e faz parte das nossas vidas.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

O MUNDO MAIS BONITO E CONFORTÁVEL NUM TEMPO A CHEIRAR A FLORES

“Quando mal, nunca pior” ou a inexplicável rendição à mediocridade

TESTAMENTO DE UM ANO COMUM