Um herói maior da liberdade


Recordo-me da tarde do dia 11 de Fevereiro de 1990. Era domingo e a RTP interrompia a sua programação para acompanhar em directo da África do Sul, a libertação de Nelson Mandela.
Depois de em Junho de 1989, a revolta na Praça de Tiananmen ter aberto brechas no regime totalitário da Republica Popular da China, e depois das revoluções com mais ou menos veludo que em Novembro e Dezembro de 1989 tinham derrubado a “cortina de ferro”, deitando abaixo o Muro da Vergonha, de Berlim e da humanidade, confesso que nessa tarde acreditei que a última década do Século XX seria a incubadora de uma liberdade certa para todos na viragem para o terceiro milénio.
Mandela tinha estado preso exactamente o mesmo número de anos que o Muro de Berlim tinha estado em pé: 28 anos, e a sua heroicidade, feita de resistência, luta e convicção, teve e tem a dimensão gigantesca da humanidade inteira, pois jamais será admissível que a diversidade, quer seja étnica, religiosa ou outra, diversidade que é expressão da riqueza da própria humanidade, sirva de pretexto para a discriminação entre Homens nascidos iguais e com iguais direitos.
O Século XX, o das duas mortíferas guerras mundiais, parecia pois querer despedir-se em grande, com paz e com liberdade, aquela liberdade que nós Portugueses saboreávamos desde Abril de 1974.
A sair então da universidade, acreditei que o mundo se tornava diferente e que com o meu trabalho e o meu empenho, tudo se encaminhava para um tempo novo.
Breve ilusão.
O petróleo foi o mote para a invasão do Kuwait pelo Iraque em Agosto de 1990, a qual motivou o ataque das forças ocidentais à pátria de Saddam Hussein em 17 de Janeiro de 1991, na que ficou conhecida como a Primeira Guerra do Golfo.
Num ano apenas, a paz, a igualdade e a liberdade, deram lugar nas notícias aos mísseis, às vítimas, aos ataques e contra-ataques da guerra.
E o Século XX despediu-se da mesma forma como chegou o XXI: guerra e terrorismo.
Entre os Homens e a paz que gera liberdade, intromete-se permanentemente o poder político e económico, a ambição cega que promove a desigualdade e mata à partida a felicidade, que é o legitimo destino da humanidade.
Pela recorrência dos factos, parece ser este o irreversível destino do mundo.
Recuso-me a aceitar e a reconhecer esta ideia.
Tenho fé, em Deus e nos Homens, e acredito que a força das nossas convicções, todas unidas, gerará a energia que transformará o nosso tempo.
Jamais desistirei de acreditar. Desistir é a marca dos fracos de carácter, dos impotentes de alma.
Nelson Mandela cumpre hoje 94 anos.
Olho para ele e para o seu exemplo e reforço e alimento, a legitimidade da minha fé e da minha convicção.
Mais, à simples escala da minha pequenez, elas são o cumprimento da minha obrigação de honrar a luta dos heróis maiores que com a vida me demonstraram que é possível fazer diferente, é possível viver melhor, é possível e legítimo ter esperança e acreditar.

Comentários

  1. Eu também acredito que o mundo um dia será melhor.
    Luto por isso e para que o futuro possa cumprir todos os sonhos das milhas filhas.
    com paz e em liberdade
    RUI PEREIRA

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