A minha casa com flores


Trouxemos na mochila uma música de Einaudi, há muito em pausa, tal qual o beijo que pendurámos de um minuto triste e saliente, também lá muito para trás.

Tomámo-nos as mãos para podermos repousar da longa viagem enquanto as nossas palavras se cruzavam com o Chá de Rooibos, que, em contramão, se deixava guiar pelos desígnios do desejo e, aos poucos, nos ia tomando os lábios que sorriam no mesmo tom rubro dos morangos.

Quisera eu agora tocar-te assim como a chávena branca cumprindo o beijo roubado à pausa e trazido a tiracolo entre a "tralha" de tanta história.

Talvez o amor não tenha mesmo contramão por não ter regra, sendo como é propriedade da alma e marinheiro livre a navegar pelo ímpeto dos sentidos; e talvez aquele minuto saliente não seja mais do que uma esquina com que a razão nos tentou querendo rasgar-nos o tempo de sermos nós.

Depois reparo que o chá arrefeceu quando eu já repouso na casa que o teu olhar me oferece. Finalmente a minha casa.

As palavras também adormeceram para nos deixarem a sós com o beijo que maturou em Outonos de saudade.

Lá atrás persiste apenas uma ténue marca no tempo, uma cicatriz da razão e do silêncio, um detalhe que os nossos sorrisos disfarçam agora por entre o amor maior.

O amor és tu, sim, o verde inscrito no amanhecer, a minha casa com flores em vez de um muro…

E aquilo que melhor poderá definir um Homem é a intensidade com que ele se propõe viver todos os dias inscritos no futuro.

 

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