O estado da nação


O estado da nação é, fisicamente, gasoso, envolto pela aerofagia dos líderes, perdão, dos chefes, na sua flatulência farta, no caso de estarem sentados no poder, ou da mais pestilenta ventosidade anal, no caso de tal não acontecer.
O estado de saúde é débil, de patologia crónica, com os “médicos assistentes” a mudarem sistematicamente de diagnóstico ou prescrição, pois assumindo a gestão do hospital, logo tratam de adiar, dolorosamente, as cirurgias ou algum tratamento mais caro ou radical.
O estado civil da nação é, definitivamente, solteiro. Todos a querem para “namorar”, ir a festas e aparecerem nas revistas, até para copular, mas depois, ao fim do dia, permanecerá sempre sozinha e sem qualquer compromisso sério e de facto, deitada à sombra dos plátanos em interação intima com a culpa, irmã que também viverá eternamente neste doloroso celibato.
O estado cognitivo da nação é de demência crónica, ali algures entre o vascular e o Alzheimer, em íntima ligação com o estado de dormência e sonolência da mais apática desistência de lutar.
O estado posicional da nação é de cócoras, tal qual o das suas finanças, e há tanto tempo, que a coluna já não consegue aguentar as dores de tão desconfortável modo de estar.
O estado confessional é laico, apesar do credo sempre na boca, e o estado de conservação também não é lá muito bom, pois persistem guarda-ventos nos palácios e nas catedrais, que impedem a entrada de um tempo novo, e possibilitem que voem para longe, o racismo, a xenofobia, o machismo, a homofobia, e tantos “pecados” mais.
Em termos de meteorologia pouco há para dizer, o estado é uma trovoada seca, sob a qual, afinal, tudo pode arder.
Mas, no meio de tudo isto, negro, que se vê, vale a alma que se sente, e que persiste, rubra, no peito de toda a gente. Rubra, e verde de esperança, da genética boa que nos fez, com um coração que de tão grande, permitirá sempre amar por dois, ou até mesmo por três.

 

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