Os amigos


Os amigos interferem, definitivamente, com o tempo, distendendo-o na ausência, e encurtando-o nas tardes dos abraços.
Nestas últimas, nós usamos as mãos e a vontade para promover pregas nas horas, tentando que os minutos não fluam tão rapidamente no seu percurso ao encontro da noite. E essas pregas são bancos informais situados no meio dos jardins e dos olhares, refúgios à sombra das palavras que têm as silabas coladas com açúcar.
Os amigos também rasgam janelas nos instantes opacos, desassossegam o silêncio que dói, sendo inimigos das cortinas e dos biombos.
Os amigos têm o peito transparente, e o sol e a claridade, invadem, por eles, todos os segundos, atrapalhando-se às vezes, de um modo saudável, com as gargalhadas que têm raízes na alma e que andam à solta perfumando os lábios, que ganham por essa altura um irresistível tom de morango.
Os amigos são donos dos beijos que “descongelam” o tempo preso em muros que bloqueiam vias sem saída, abrindo, assim, avenidas de encontro ao mar e ao cais de todos os navios.
Os olhares dos amigos penduram flores das horas que parecem não ter muita graça, varrendo aquilo que não importa e que persiste nos dias. Os amigos podem não ter um sangue igual ao que nos corre nas veias, mas são quem melhor sabe aquecer e propulsionar o nosso, o que é infinitamente mais relevante no que à vida diz respeito.
Os amigos são azuis, amarelos, encarnados… de todas as cores, e merecem muito mais do que apenas um dia, porque a vida não tem hora marcada, e porque são, indiscutivelmente, os mais fiéis de todos os amores.

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