As paredes de cal são como os nossos dias


Por mais que alguém possa assumir e afirmar o contrário, os dias nascem para nós sermos felizes.
Na semana que passou celebrámos o pai, a primavera, a poesia, a árvore, e a água, lembrando-nos assim, estes “post-its” colocados à superfície do tempo, que os dias nascem para serem compartidos com aqueles de quem mais gostamos e quem nos acrescentam vida, não devendo existir pudor ou medo de deixarmos para trás as demais criaturas, marcos parados e petrificados das estradas que já fomos.
Lembram-nos também que a água limpa todas as mágoas, abraçando-a ou olhando-a, apenas, de perto ou de longe, na corrente de um rio, de uma fonte, ou então, na imensidão revolta ou tranquila que tem o mar.
Para além disso, por mais rigoroso e dificil que seja o inverno, as árvores são iguais a nós no instante em que se cobrem de flores e folhas, reinventando-se sempre que chega a primavera.
E a poesia?
Anda por aí, por todo o lado e todos os dias, embora costumem chamar poetas àqueles que tiram uns apontamentos, partilhando-os depois com o mundo.
No culminar desta semana, ainda registo o facto de a minha avó Natividade, que partiu há já 20 anos, ter nascido fez ontem precisamente 106 anos. Sempre que me ia levar a casa dos meus pais, depois do jantar, eu e a avó íamos pela rua a inventar histórias, aproveitando os “desenhos” que nos eram oferecidos, inadvertidamente, pelas fachadas mal caiadas da nossa Vila Viçosa. Não eram desenhos tão precisos e artísticos quanto os do Vhils, mas a nossa crença fazia o resto.
As paredes de cal são como os dias, quando, por mais feias e desassossegadas, existem para nos fazerem felizes.

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