Uma estrada de terra...


A vida é uma estrada de terra que é fiel a todos os mais pequenos contornos de um rio, e a gente que vive é aquela que caminha descalça, não se resguardando das pedras, das mágoas e das sensações.
De um lado teremos sempre o sal como destino, e do outro, em planícies ou em socalcos, acode-nos o pão e o azeite.
Às vezes, entre a poeira e o cansaço, deixamos de ver o sol, e decidimos sentar-nos numa pedra grande, quiçá cravejada de musgo, afundando o rosto nos braços cruzados, e olhando para nada mais do que apenas o pensamento. Como se pudéssemos encontrar-nos bem e bonitos dentro de uma casa para onde entrámos depois de apagar a luz e fechar todas as janelas?
Com o sol por detrás, como quem não nos quer, se nos abeirarmos da água e nos fixarmos no reflexo, nós seremos sempre maiores do que alguma vez nos julgámos, e os nossos braços erguidos e em pose de guerreiro, acrescentarão força ao argumento da nossa história.
Ilusão?
Nem sempre conseguimos ver aquilo que nos abraça, mas tudo o que nos abraça faz-nos maiores; e bem conhece esse princípio quem tem fé em Deus, nos Homens, na arte, na poesia...
Depois, talvez seja preciso chorar para moldar um copo com o barro do caminho, acudindo às fontes com a certeza de sarar a sede.
E talvez seja preciso ferir-se numa pedra, para conseguir o sangue e escrever a vermelho o argumento de um novo amor.
Um dia morreremos, é certo, mas aí, e sem sabermos muito bem como, já teremos chegado a uma praia deserta onde nos esperam as gaivotas para nos levarem com elas a voar, deixando o corpo em sossego no outro lado da estrada, para alimentar o pão de quem ainda não chegou e segue a caminhar.

 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O MUNDO MAIS BONITO E CONFORTÁVEL NUM TEMPO A CHEIRAR A FLORES

“Quando mal, nunca pior” ou a inexplicável rendição à mediocridade

TESTAMENTO DE UM ANO COMUM