Mudar de vida

Portugal do fado, triste destino…
Com a crise se adjectivam os nossos dias de 2012, num cerco negativo frequentemente cíclico que insiste em colar-se à nossa história com a aparência de uma inevitabilidade carregada no código genético da pátria.
Trinta e oito anos depois da madrugada dos cravos, o que fizemos da democracia?
Aportuguesámo-la e demos-lhe uma história igual à de qualquer Português.
Na primeira década de vida vivemos a emoção do começo. Descobrimos o mundo com os primeiros passos, as primeiras palavras na diferença oferecida pela liberdade.
Carregámo-nos de esperança, cantámos a diversidade, confrontámo-nos sem medos ou rodeios e fizemos festa porque nada seria igual a partir daí.
Resistimos às quedas e às feridas como Camarate e partimos para a segunda década…
Antes de chegar aos vinte anos apaixonámo-nos pela Europa e por este “amor” deixámos de estudar e de trabalhar, assumindo que nesse casamento estava a solução para uma vida regrada e de prazer. Nunca quisemos acabar com a pobreza, quisemos sempre passar para o grupo dos ricos. E os outros? Pois, salvem-se como puderem.
Abandonámos a terra, o mar, comprámos carros de alta cilindrada, bons apartamentos, rendemo-nos às marcas do estatuto, e apostámos na marca “Cavaco” fazendo dela o símbolo do nosso sucesso feito e temperado a betão e rotundas.
Ao entrar nos trinta já o casamento com a Europa estava em agonia e viciados no doce prazer da paixão e da riqueza feita de aparência, mergulhámos nas aventuras extra-conjugais de Guterres, Barroso e Sócrates, que começaram, duraram e morreram, com o ritmo normal de qualquer relação de amantes.
E agora, à beira dos quarenta anos?
Estamos desempregados, sem dinheiro para pagar as contas do endividamento que herdámos das nossas aventuras anteriores, não sabemos produzir, temos cursos e estatuto mas a única meta que nos oferecem é a emigração.
Não temos esperança e não temos referências porque quem nos lidera tem a visão de curto prazo e a ambição apenas da sua sobrevivência política numa legislatura que lhes possa abrir as portas para uma lucrativa experiência no mundo empresarial.
Mas, não é verdade que aos quarenta se deve rever a vida?
Concordo que sim e estamos quase lá.
Diria que está na hora de recomeçar a sonhar e de deixarmos de nos render à “crise”, colocando-a de parte das nossas inevitabilidades.
Lutemos arduamente pelo que queremos ser.
Sem medos, digamos convictamente “Sim” ou “Não” seguindo as rotas da alma e da ambição.
Com a maturidade de adultos nascidos e crescidos em liberdade, há que fazer emergir o muito que nos une mais do que o supérfluo que nos separa, para que Portugal volte a acertar o passo com a liberdade, o desenvolvimento e o sucesso.
Unamo-nos no cumprimento deste destino, jamais triste, porque nosso.

Comentários

  1. A vida não é eterna e tudo tem um prazo, nossas vontades mudam nas viradas do acaso, pois esta é uma questão ainda não resolvida: a vida faz o amor ou o amor que faz a vida?
    A quem não precisa nunca falta uma amizade, mas quem precisa só experimenta falsidade e descobre oculto no amigo um inimigo antigo.

    Rui Pereira

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