Vencer o maligno no último feriado de Agosto


16.30 Horas do dia em que Portugal celebra pela última vez o dia de Nossa Senhora da Assunção como feriado nacional, à procura de maior produtividade e em busca da famosíssima competitividade das empresas.
A Basílica da Santíssima Trindade está bem composta de fiéis e pelo linguajar, não tenho dúvidas de que são emigrantes regressados a Portugal para o gozo das férias de Agosto, muitas das centenas de pessoas que me acompanham.
Viemos todos aproveitar o último feriado.
O rosto da imagem de Cristo sobre o altar é realmente feio e juntamente com o excesso de ouro na gigantesca parede de fundo, perturbam qualquer alma que aqui chegue à procura de paz.
O destino de martírio na tarde parece completo quando uma freira se agarra ao microfone e o torna seu em exclusivo para dar a maior concentração de guinchos que jamais julguei possível ouvir. Kate Bush, filha, és aprendiz.
Atrás de mim, na assembleia dos crentes, outra septuagenária em busca de fama e por certo perturbada pelo protagonismo da outra, responde aos cânticos também a guinchos e, de repente, vejo-me metido num duelo vocal que me põe os nervos em franja.
Fico sem saber se saia ou se bata nas duas e, compulsivamente, as obrigue a voto de silêncio.
Após as leituras, começa a homilia, e tentarei ser o mais fiel na reprodução das palavras do padre, de quem não recordo o nome, nos parágrafos que se seguem.
“Maria venceu o mal e nós também necessitamos de o vencer. E nos nossos dias, o mal maior vem advém da intervenção dos poderosos grupos económicos que exploram os cidadãos e que sem escrúpulos e para conseguirem os seus fins, põem as famílias em agonia total, promovendo o desemprego e a exclusão social”.
“É necessário derrotá-los com convicção e com uma forte luta”.
“Maria subiu ao Céu em corpo e alma, e a nós, urge velar pela alma e cuidar do corpo, combatendo situações degradantes como a pedofilia, a exploração e o abuso sexual”.
Quando eu menos esperava, eis que me chega esta convicção de estar em casa. Esta é a minha Igreja, esta é a minha visão social à luz da fé que confesso.
Chega o momento do Ofertório e da Comunhão, e a esganiçada dá o palco a um coro do Senegal, que na sua língua, e com a ajuda dos seus simples instrumentos de precursão, cantam a universalidade de uma fé que não tem etnias. Tem pessoas, nas suas diferenças.
E foi também ao som da Banda de África, que definitivamente e para meu gáudio destronou a “Kate Bush da Cova da Iria” que saí da igreja, com um pouco mais de esperança.
E é de esperança que se alimentam os nossos dias.

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