Todos os nomes têm o seu Santo…



Todos os nomes têm o seu Santo; onomástico orago que colocamos entre incenso e entre os dias nos altares informais que coroam as montanhas de onde legitimamente sonhamos o Céu.
O Verão já não tardará a partir, está por dias, e ficará apenas o sol guardado nas uvas que ele foi perfumando de açúcar pela encosta íngreme que o Homem vestiu de degraus para poder descer desse Céu e beijar o rio.
Somos nós quem chama o Outono quando despimos o pó da terra que nos cobre os passos, e nos enleamos num abraço onde cabemos todos, os de perto e os que chegam de longe, cantando em rimas, os versos que oferecem eco eterno aos nossos avós.
E ali em baixo, a coerência do rio a serpentear a Terra e o tempo definindo o vale…
Essas águas “d’ouro” que correm pacientes e fiéis calando fronteiras entre altas arribas, aguardando o mosto e o vinho para o embalarem até quase à Foz, o ponto onde as sombras doces das Quintas se revestem do inevitável tom salgado que tem a saudade.
O rio imita-nos o olhar e a sorte; que o mundo ganha-se mar fora deixando atrás as sombras das casas onde nascemos... E o Porto é um imenso cais onde desembarcamos o sol e os amores, o Verão que andou alegre e rebelde pelas montanhas todas onde as nossas paixões tomaram guarida.
No alto da montanha, enquanto o meu sonho viajar pelo céu e pelo mundo fora, levantar-me-ei cedo nas manhãs de inverno, tomarei a poesia das palavras e levarei comigo todos os cuidados; que o vinho começa sempre no gesto perfeito do herói que rompe as madrugadas para acariciar as cepas que trata por tu.
Todos os nomes têm o seu Santo…
Um bispo do Século IV, Ilídio. Ofereci-lhe altar do cimo da montanha onde o olhar se deleita e eu afago todos os meus sonhos.
E este vinho é o sangue que me bombeia o coração e corre entre vasos e o tilintar da saúde e da vida que celebra a poesia.
Pelo mundo fora.

O meu amigo Ilídio Monteiro há anos que me convida para a vindima na sua Quinta dos Vales de Ribalonga., mas eu nunca consigo estar presente, apesar de já ter provado o néctar feliz que resulta de semelhante festa.
Não podendo mais uma vez oferecer os pés à pisa, resolvi pôr as mãos ao serviço da amizade e escrever-lhe este pequeno texto.
Para ele e para a nossa comum amiga e poeta Isaura Pires Vieira.

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