Novas aventuras do cerco



É verdade, o cerco continua, e de cada vez que dou título aos meus post sobre o dito, confesso que me sinto a Enid Blyton a batizar os livros da saga de “Os cinco”. Tudo isto porque sou seu fã, e ainda tenho pendente uma visita ao País de Gales em busca dos Rochedos do Demónio, da Quinta Finniston e do Lago Negro.
A registar, amigas Margarida, Patrícia e Sónia, mas só depois da Islândia.
Para quem está sitiado, como eu estou há mais de um mês, a companhia dos melhores pais do mundo, e um céu que muda a cada repelão de sol ou trovoada, dá-me um ímpeto enorme de aproveitar aquilo que não é um castigo, mas apenas uma oportunidade alternativa de ser feliz.
Sim, confesso, sou um indefectível do otimismo.
Também sou indefectível da liberdade, achando por isso que ela deva ser celebrada todos os dias na alma e nos gestos, sejam eles diferentes ou iguais.
Por ser da fé, também considero que a forma mais eficaz de beijar a Cristo é estar próximo e ser aliado de todos os que nos rodeiam.
Tudo o mais é folclore que reduz a liberdade a um ícone ideológico, e a Cruz a um elemento bacoco de uma cruzada de apenas vaidade.
O símbolo não pode trair ou ofuscar a essência.  
Isto hoje vai num tom muito sério, mas não se assustem, porque foi só até aqui.
Lembram-se de um anunciado poema dedicado à tampa do depósito dos resíduos indiferenciados?
Pois, meus amigos, não foi necessário esperar mais duas semanas, tendo bastado apenas uma, e mais sete idas glamourosas a despejar o lixo na estação que fica junto ao lago.
Aqui fica o poema, esperando eu que o apreciem:

Quando à noite a minha mão te afaga
para suavemente desenhar contigo
uma vertical com a lua
sobre o eclipse dos despojos
de qualquer dia
abre-se para o céu
em coerência de prata
a minha rua

Em prol do âmago
e da verdade
as cascas fenecem
entregues à terra
envoltas nas espinhas cruéis
e nas ervas amarelecidas
que o frio queimou

As alvas folhas
que as entranhas traçaram
no aliviado regresso ao respirar tranquilo
são agora apenas fétida memória
por entre o bolor que morrendo
restitui valor ao tempo novo
calando o prazo que caducou

A minha noite ganha então
novo fato
apagado o dia
naquilo que por não ser meu
permaneceu no prato

O meu sonho
correndo sem medo
e com pressa
por essa incansável rua
que desenhei contigo
e por ti
flui sem barragens
liberto que está do pó da casa
das aparas das unhas
dos resíduos das feridas
e da folha de alumínio d’ “A vaca que ri”

Um grande abraço, permaneçam em casa e divirtam-se, porque para nos rirmos só precisamos de nós.


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