O livro


O livro é a viagem solitária de um Homem nu e descalço, por sobre o barro, as estradas e as ruas que a alma lhe pede, existam elas ou não.
O livro, inevitavelmente, tem o coração desse Homem a bombear sangue para a gente toda que ele diz, incendiando-a de um despudor que não omite chagas, risos, dores, e outros sentimentos que tais.
O livro é o eficaz antídoto da morte, constrói casas, derruba telhados, ressuscita fontes e rios, aproxima-nos do mar, traz areia do deserto, o aroma da savana…
Tendo uma impressionante memória, o livro brinca com as horas, empurrando-as ou aproximando-as a seu belo prazer, ao mesmo tempo que destrói a ordem natural de todas as coisas. À exceção do dicionário, que o faz por obrigação, que outro livro abarca em si a noção de impossível?
Palácio das antíteses, o livro consegue fazer nascer por entre a morte, põe palavras para acalentar silêncios, e oferece a mais irrequieta mobilidade a quem se dispõe a estar quieto.
A maior mentira de um livro é o seu ponto final, porque a estrada poderá sempre continuar um pouco mais à frente.
Apesar da nudez, e independentemente da estação, num livro quase nunca se sente o frio, porque para essa eventualidade ele dispõe dos poemas de amor, que, quanto muito, conseguem produzir um doce e suave arrepio.  

 

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