Moody’s classificada como MMEE

Em 1991 assentei praça em Tavira para cumprir o então obrigatório, serviço militar.
Já com vinte e muitos anos, eu e mais 119 garbosos homens, após alguns anos a estudar na universidade, fomos dar o corpo, e a mente, claro, à preparação da defesa nacional, ficando aptos para em caso de necessidade, sairmos em defesa da pátria.
Em finais de Setembro, ainda com muitos turistas nas esplanadas à beira do Rio Gilão, os nossos pelotões carregados com G3, cheios de lama e com a cara pintada de preto com o recurso ao papel químico que antes acompanhava os boletins do Totoloto, um verdadeiro Platoon do Sotavento, eram um elemento que atraia as atenções e animava a malta.
Riam os turistas e riamo-nos nós por dentro, pelo facto de estarmos a ser treinados para uma guerra à semelhança da guerra colonial, com os inimigos a atacarem por detrás de arbustos, quando tínhamos a noção, muito clara após a primeira guerra do golfo, de que os perigos e os ataques nesse tempo já eram de outra natureza, vinham do céu sob a forma de mísseis e poderiam ser de natureza química ou biológica, por exemplo.
O que acho que nunca ninguém imaginou por esses dias, era de que haveríamos de chegar a um momento em que a soberania nacional fosse posta em causa pelos ataques especulativos de um bando de opinativos consultores teóricos pós-modernos, agrupados em agências de rating, que com base nos seus modelos preditivos complexos, irreais e aposto, jamais testados, a partir dos seus escritórios no topo de um qualquer arranha-céus americano, e tendo por arma modernos e sofisticados PCs, atirasse a nossa economia para o lixo, classificando-a de “Ba2” (Vá lá alguém entender estas siglas).
Com argumentos fúteis e vagos, numa atitude irresponsável indutora da nossa maior e legítima revolta, classificam igualmente de lixo, os maiores bancos nacionais, importantes empresas e até cidades como Lisboa ou Sintra.
Incompreensível.
Ou talvez não, se pensarmos que o ataque tem por detrás outros elevados interesses, não visando apenas Portugal, mas pretendendo atingir o Euro, ferindo-o de morte, num contexto de permanente bombardeio às economias mais débeis da zona da moeda única europeia.
Tivessem os líderes europeus de hoje o mesmo espírito europeísta de quem idealizou o Euro, e talvez a resposta a estes ataques já tivesse sido muito mais eficaz, impedindo-nos de chegar aqui.
Em alguns países, incluindo Portugal, têm sido apresentadas na justiça, queixas contra estas agências e a sua acção nefasta, tendo elas sempre respondido, defendendo-se, que se limitam a emitir uma opinião num quadro de liberdade de expressão.
Não fosse o impacto negativo que estas opiniões têm sobre os bolsos de milhões de pessoas, e o assunto até teria alguma graça.
Mas já que estamos nesse âmbito da liberdade de expressão, sinto-me à vontade para como cidadão de um país democrático, dizer que atribuo à Moody’s, com base no meu critério pessoal e nas suas acções recentes e também nas passadas, quando por exemplo reconheceu a saúde financeira do Lehman Brothers alguns dias antes da falência, a classificação de MMEE: Monte de Merda a Exigir Extinção.

Comentários

  1. Já viste a T-shirt que a Lanidor vai oferecer aos clientes no dia 15 de Julho?
    Diz assim: Moody's? No thanks! Fashion girls anti-junk!
    Um primor, hein?!

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