Um ataque ao coração da paz


Aterrei pela primeira vez em Oslo no verão de 2000 e recordo-me da sensação que então tive: a comodidade da chegada a um local tranquilo.
O meu hotel ficava numa zona residencial onde embaixadas e famílias conviviam sem grandes aparatos de segurança.
Ao deslocar-me do hotel para o centro da cidade, atravessava os jardins do Palácio Real, de acesso livre como qualquer outro jardim público da cidade, sem portões fechados e quase que a permitir tocar à campainha e convidar o Rei e a Rainha para tomar um café.
Tive o privilégio de passar a tarde de um domingo no parque Vigeland, esse lugar magnifico criado pelas mãos do escultor Gustav Vigeland, que colocou na pedra, sob a forma de esculturas gigantes, todas as formas de relacionamento entre os Homens, recordando-nos que nascemos para não estar sós e que o amor, a amizade, a paz e a tolerância estão na nossa própria essência.
Recordo-me da felicidade de todos quantos buscavam as sombras do parque para estar em família ou em grupos de amigos, que inspirados na mensagem do escultor, se constituíam eles próprios como monumentos vivos desses sentimentos fortes e positivos que nos transportam para o conforto da união que faz com que o conceito de humanidade ganhe sentido.
Todos deveríamos ter a oportunidade de um dia poder passar por este local que está, não por acaso, na cidade que todos os anos serve de cenário à entrega do Prémio Nobel da Paz, esse galardão que nos recorda a cada Outono que há gente que se empenha e entrega as suas vidas para que o mundo seja melhor e valha mais a pena.
Ontem, dia 22 de Julho de 2011, o coração desta cidade da paz foi atacado pelo terrorismo, e as dezenas de mortos resultantes deste ataque são feridas profundas e dolorosas numa das últimas reservas de esperança dos nossos tempos.
O terrorismo tem e terá sempre a marca da cobardia e não há causa no mundo, por mais justa que se julgue, que não perca a razão ao fazer assentar a sua luta na morte de um ser humano sequer que seja.
Com estes ataques ao coração de Oslo, hoje mais do que nunca, sinto a maior das vulnerabilidades e sinto o desconforto de que em qualquer lugar e a qualquer hora, qualquer um de nós pode ser vítima desta guerra feita por cobardes e hipócritas.
O grande pintor Edvard Munch nasceu na Noruega e tem em Oslo um museu magnífico com as maiores das suas obras. De entre elas, a inquietante “O grito”, de 1893, é a grande atracção com o seu misto de mistério, dor, revolta, solidão, terror…
Edvard Munch antecipou e pôs na tela, o sentimento da Noruega e da Europa em geral, neste mês de Julho marcado a vermelho de sangue no calendário da paz.

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