O mar


Perseverante, criativo, é o nosso Atlântico na conquista destas terras do norte da península, surpreendendo-nos em cada recanto com a sua neblina e cheiro a sal, e deixando atrás de si um rendilhado de ilhas e rias, cumplicidade única entre a terra e o mar.
E se das línguas e da cultura nascem as pátrias, mais do que da política vontade dos Homens, inabaláveis e fortes são as raízes comuns que nos sustentam a nós, lusas almas, e à gente do canto celta da Galiza, o povo bravo dos poemas de Rosalía de Castro.
Por baixo da minha janela na Illa da Toxa há hoje uma septuagenária mulher Galega que todo o dia tem apregoado adornos feitos de conchas, na sua língua, que não deixa de ser a nossa.
Vejo-a das janelas e vejo as suas conchas que ninguém compra.
Mas ela não desiste. Aprendeu com o mar, a ser rija e perseverante.
Somos assim, os filhos do Atlântico.
E enquanto ao longe, vejo esse mar a que chamam ria, acode-me à memória o meu menino das conchas.
Já não consigo precisar quem um dia passou por Sesimbra e nos fez chegar a casa, em Vila Viçosa, uma recordação na forma de um rapaz de corpo de conchas e montado num búzio.
Não conseguirei precisar também quantas vezes esse búzio me trouxe aos ouvidos e aos sonhos, um fiel e perfeito som de mar, nesse tempo em que o mar estava tão longe, inalcançável mesmo, às nossas vidas.
Com os meus pais ao lado, continuo a olhar o mar.
Abro o facebook, e vejo que uma das minhas melhores amigas, companheira e cúmplice de sonhos no tempo em que não podíamos ver o mar, celebra o aniversário da sua filha com uma foto em que estão juntas em frente ao oceano, com ar de vitória.
Marta, parabéns. Sou teu fã porque és uma “miúda” incrível.
Manuela, Zé Maria, Pai, Mãe, conseguimos!
A fé e a nossa perseverança trouxeram-nos ao mar.

Comentários

  1. A perseverança e o nosso querer levam-nos aos sonhos e ao mar...
    Rui Pereira

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  2. Sinceramente, não sei porque li não este post ontem, já que ando frequentemente a “viajar” por aqui. Talvez fosse porque hoje precisava mais de o ler do que ontem! Dizem que não há coincidências!...
    Sabes que essa rapariga cresceu a ser tua fã: o “amigo viajador”, aquele que nos “obriga” a ir tomar café quando cá está para aproveitarmos a oportunidade de estar juntos, algo às vezes difícil, devido às vidas de cada um.
    Obrigada pelas tuas palavras! Sim, conseguimos! Ou melhor, vamos conseguindo porque nos esforçamos no dia a dia por ser heróis e não oportunistas!

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  3. Bolas... a escrever assim quem tem mais palavras. Quando olho para o meu mais precioso projecto, aquela rapariga louca e bem disposta, penso que a vida tem um sabor unico quando se vence a cada passo o que se sonhóu alcançar. Quando partilhamos com amigos essas vitórias é mesmo fantástico. Obg por partilhares as tuas.

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