Estas noites em que se acendem as luzes…


Nas noites em que nos sentimos especiais, puxamos os luzeiros do céu para bem mais perto, acendendo as luzes desenhadas e garridas do arraial.
Depois caminhamos de amigo em amigo, porque o coração calipolense centrífuga o universo, concentrando-nos numa praça com chão de terra, mas onde não há tempo para mastigar o pó que se levanta por entre os nossos pés.
As bocas estão definitivamente empenhadas nas palavras, no riso, nos padres-nossos, nas farturas e na ginja, porque de tudo isto se compõe a vida nos seus dias mais preciosos.
Jamais importará quem sobe ao palco para cantar, ou se a rifa já se modernizou e trocou uma garrafa de Anis Escarchado por uma bugiganga qualquer comprada nas lojas chinesas.
Tão pouco importa se a banda que atua no coreto já puxou o pimba para o repertório...
Nas noites dos amigos só eles importam e só eles nos fazem falta, na certeza de que ter uma terra é ter uma casa com paredes de afeto tecidas pelos olhares, e janelas generosas com vista para tanto.
Ter terra, assim, é ser mais do que uma sombra anónima a vaguear pelas ruas, é beneficiar de nome e história num caminhar contente ao compasso de abraços e palavras doces.
Este fim de semana haverá festa em Vila Viçosa, a minha casa.
Numa praça imensa, mas que o tempo foi encolhendo à medida que eu cresci, há uma igreja onde uns frades de terracota veneram um São Francisco jazente. Chamamos-lhe a Festa dos Capuchos, e pelas grades da janela da capela dos frades atiramos moedas pedindo a sorte, numa espécie de Fontana de Trevi calipolense, com fé mas sem água.
Cá estou eu pronto para ver os amigos, matar saudades e continuar a comover-me ao primeiro acorde da banda.
Com o céu aqui tão perto, à espera que, de Setembro a Setembro, o ano nos traga a melhor sorte.

 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O MUNDO MAIS BONITO E CONFORTÁVEL NUM TEMPO A CHEIRAR A FLORES

“Quando mal, nunca pior” ou a inexplicável rendição à mediocridade

TESTAMENTO DE UM ANO COMUM