O dia das mentiras ou o dia do fim das ditas


Não ouso chamar-lhe casamento, matrimónio, boda ou outras palavras sinónimas, porque de todo quero ofender os proprietários, os detentores da patente de semelhantes conceitos. Longe de mim beliscar as instituições de âmbito social ou religioso que se afirmam as legítimas donas deste passo avante para a constituição de uma família.
Deixem então que lhe chame uma reunião dos amigos e da família para celebrar o amor e para afirmar à sociedade civil, que pela força desse mesmo amor, há duas vidas que, entrelaçadas numa partilha profunda, se vão unir numa só vida, solicitando a essa mesma sociedade civil que reconheça esse acto de entrega e compromisso.
Em minha opinião, não há nenhum cidadão à superfície do globo que não tenha o direito de fazer esta celebração, e hoje, dia 1 de Abril de 2011, é isso que vão fazer o José e o Rámon, dois amigos meus que há alguns anos conheci em Sevilha.
Assumindo a verdade das suas vidas, encontraram-se e encontraram o amor que os une numa mesma casa há cerca de 15 anos. A essa verdade e esse amor foram buscar as forças para vencer as dificuldades, e assim têm hoje o privilégio de saborearam o doce da felicidade plena, que é sempre aquela que assenta na verdade de nós próprios.
Tenho a honra de já ter sido convidado para a mesa da sua casa e o prazer de os ter tido já como convidados à minha mesa, e posso testemunhar aqui que o amor e a cumplicidade que os une e que expressam a cada momento, são inspiradores e são a prova de que é impossível e ridículo impor regras ao amor, tentando distinguir o socialmente aceite do rejeitável.
Há algum tempo atrás, quando em Portugal se discutiu a possibilidade da união civil entre pessoas do mesmo sexo, observei a histeria contestatária de alguns grupos radicais conservadores, defendendo a instituição família, sabendo nós, comprovadamente, que muitos deles são interpretes falhados em famílias que são verdadeiros filmes de terror, mas que só existem para manter as aparências e dar conforto social.
Vícios privados, públicas virtudes, e a mentira como capa do eu tantas vezes esmagado pela força das conveniências, castrando à partida a possibilidade de uma felicidade perfeita e à medida da nossa vontade e da dimensão única do nosso próprio eu.
Felicidades para o José e para o Ramón e muito obrigado por este testemunho de que quando se segue o coração, nem um só dia no ano, será dia para a mentira.

Comentários

  1. Dava uma volta pelos blogs que visito regularmente e li o teu post. Nem de propósito, o blog seguinte falava do mesmo assunto, mas de outra forma. Deixo-te o desafio, e aos teus leitores, de o visitares: http://tribodejacob.blogspot.com/

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  2. Na minha opinião, todos somos gente e temos o direito a procurar a nossa felicidade da forma que nos aprouver. Ponto final parágrafo.

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