Milagres

Ontem foi dia 13 de Maio e Fátima voltou a encher-se de peregrinos.
Um halo à volta do sol no momento da procissão do adeus, fez com que se revivesse o 13 de Outubro de 1917, com muita gente a admitir que de um milagre se tratava.
Não pretendo aqui discutir Fátima e dissertar sobre milagres. Se a fé não se discute, manda a prudência que as crenças, e Fátima situando-se nos territórios da fé, está apenas ao nível das crenças, não devam ser alvo dessa mesma discussão.
Se ao longo dos meus 44 anos e na perspectiva da viagem de vida conjunta com os meus amigos Calipolenses de sempre, Fátima foi por certo a estação onde nos apeámos mais vezes, sendo infinitas as histórias que guardamos na nossa memória, associadas a lugares, tempos e pessoas de Fátima, talvez a visita mais completa que fiz à Cova da Iria tenha sido a que realizei na companhia de um amigo, ateu confesso, mas interessado em ver Fátima pelos óculos da antropologia.
Após circular pelo Santuário e depois de ver e sobretudo sentir o ambiente de Fátima, confessou-se admirado por ter sentido que estava num local “estranho” e não ter podido ficar-se apenas pela fotografia totalmente racional que se propunha fazer.
Talvez ele tenha sentido o mesmo que a minha amiga e crente Isabel Marcos há uns anos atrás, quando em passeio pelo Santuário me dizia:
-Quando venho aqui sinto cócegas na alma.
Que energias serão então estas que massajam a alma dos crentes e que não deixam indiferentes os que apostam não ter alma?
Já reflecti bastas vezes sobre isso e não levam por certo a mal, que numa perspectiva meramente de partilha, vos diga que essas energias existem em cada um de nós, e que somos nós próprios que as transportamos para um local que é raro no nosso mundo, por ser um espaço onde se cultiva e exige o silêncio.
Fátima é antes de mais, para mim, um encontro connosco próprios, feito numa dimensão tão profunda e inusual que ganha estatuto de divino e rótulo de sobrenatural.
Para nós, os que temos fé, Fátima e o seu silêncio também nos oferece esse extra que é a dimensão do encontro profundo com Deus e o diálogo através das orações que se virmos bem são também encontros profundos connosco próprios.
A última vez que estive em Fátima, saía da Basílica quando me deparei com um colega da minha empresa que se encontrava com a família no cumprimento de uma promessa. Em apenas 2 minutos de conversa e falando apenas dos motivos porque estávamos ali, fiquei a conhecê-lo melhor do que em 10 anos de trabalho conjunto
O silêncio de Fátima e o encontro connosco, a abrir-nos as portas para uma relação diferente com o mundo e com quem nos rodeia. Ganhamos a dimensão da profundidade.
E os milagres? Existem?
Não sei nem quero saber.
Crenças e convicções à parte, o maior e o melhor milagre de Fátima é ser assim um oásis de paz no deserto dos desencontros que é o nosso tempo, uma fonte onde renovamos as energias para que consigamos cumprir a mais nobre das missões que é mudar e enriquecer o nosso mundo, sendo assim simultaneamente felizes e completos.

Comentários

  1. "Que energias serão então estas que massajam a alma dos crentes e que não deixam indiferentes os que apostam não ter alma?"
    A fé é um dom de Deus. Cabe a cada homem, na sua liberdade, responder positiva ou negativamente a essa proposta que Deus faz a todos os homens. Perante o dom, os crentes sentem "cócegas na alma", os outros apenas "algo estranho". É Deus que fala; a resposta depende de quem ouve, ou melhor, de quem O quer escutar!

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

O MUNDO MAIS BONITO E CONFORTÁVEL NUM TEMPO A CHEIRAR A FLORES

“Quando mal, nunca pior” ou a inexplicável rendição à mediocridade

TESTAMENTO DE UM ANO COMUM