Música


Dos lados do mar, por onde se vislumbra o Bugio, penteia o Tejo, o vento, que beija a Ponte e o Cristo-Rei, trazendo com ele, a sopros, o ritmado bater das ondas, e esse indício de gaivotas no seu doce voar de liberdade.
De nascente, do sul e do norte, das lezírias, da planície e das serranias, assobia o ar, falando de mil águas, de arrozais, trigo, esteva, urzes e giestas.
E o homem, apregoa jornais e diz-se vender a sorte. É a grande, aquela que por estes dias nascerá no andar da roda. Da roda da fortuna.
Passa então ligeiro, o vinte e oito, e ouve-se o ranger da já gasta e amarela madeira, hoje arrendada às marcas. Escuta-se o tilintar de um sino que o denuncia ao passar, e que, oportuno, dá sinal de paragem, algures nesse eléctrico movimento que um metálico som reproduz no ar, na deslizante entrega aos carris, que há muito rasgaram paralelos e a cor de prata, as calçadas negras do centro das ruas da cidade.
E surge a mulher que bamboleia a anca e que grita lindo, fresco, o peixe posto à cabeça com artes e ares de circo, na simples e plana canastra, nascida do ofício do saber entrelaçar o vime.
Num campanário próximo, ao Chiado, que é onde a cidade se faz perfeita, um sino dá Trindades e repica forte fazendo ressoar a fé. Sonoro convite ao recolher das almas, ao estancar desses passos firmes que soam por sobre a calçada dos passeios, esses quadros a branco e preto, pintados por cubos irregulares de pedra.
A rua estreita que respira povo e saudades de Junho e Santo António, está bordada de varandas que carregam as muitas cores das sardinheiras. Varandas de portais entreabertos que deixam sair sem reservas e para gosto de quem passa, o canto do fado gemido na guitarra e nascido sublime pela voz perfeita de uma Deusa de nome Amália.
É Lisboa. Eterna Lisboa.
Na sua cor e na sua música, num alegre final de tarde de Outono.
Hoje, dia 1 de Outubro de 2012, Dia Mundial da Música. 

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