“Pintelhices”

Quando assisti a um ministro do governo de Sócrates a fazer corninhos com os dedos para a oposição em plena Assembleia da República, julguei que a política Portuguesa tinha batido no seu ponto mais fundo e que pior era impossível.
No entanto, e provando que o slogan turístico de há alguns anos, “há sempre um Portugal desconhecido que espera por si”, se já não se aplica ao turismo, é mais do que válido para a política, assisti incrédulo a afirmações de um destacado militante do PSD, por acaso o que se encarregou da elaboração do programa do governo e que até afirma ser amigo, visita de casa e almoçar frequentemente com o Presidente da República, acusando a imprensa de fugir do essencial e prender-se apenas aos “pintelhos”.
Que tirada de nível!
Aqui há alguns anos existia na minha Vila Viçosa um Lavadouro Municipal, que mais não era do que um pavilhão cheio de tanques de lavar roupa, onde as mulheres a troco de um valor simbólico, iam lavar os trapinhos e sempre aproveitavam para desenferrujar a língua, aliviando assim em tertúlia feminina, todo o veneno de uma vida que lhes era muitas vezes demasiado agreste.
Entre as lavagens e secagens da roupa, os dias eram claramente da má língua, acabando muitas vezes com alguma a dar com a roupa molhada na cara da outra, em cenas que o Almodôvar bem se esforça por copiar mas ainda não o conseguiu com tamanha precisão.
Ao ouvir as entrevistas do Prof. Catroga é para o Lavadouro Municipal que me leva a memória.
E se da má-língua de entre barrelas ainda me consigo recordar achando alguma graça, por ter na base coisas tão insignificantes para a humanidade como alguma Maria que deixara o namorado ou alguma Antónia que aproveitara a estância do namorado no ultramar para se aconchegar com outro, à má-língua dos políticos e ao baixo nível das suas intervenções, não consigo achar mesmo graça nenhuma.
Na política está em causa um país e com ele milhões de pessoas, algumas delas a passar por um período muito difícil das suas vidas, e o mínimo que se exige é respeito e dignidade.
Continuo a achar que é importante mudar de rumo e que a 5 de Junho é fundamental que todos votemos mas não estranharei jamais que muitos faltem à chamada ao voto porque os boletins onde nos pedem que assentemos a cruz da nossa escolha mais parece o cardápio da incompetência e da mediocridade, onde se torna difícil dizer sim a algo.
A escolha do melhor tornou-se há muito a escolha do menos mau, mas é tudo tão mau que é difícil escolher qual o menos.
Li hoje no Público que em 2100 haverá apenas 6 milhões de Portugueses a viver em Portugal, havendo 4 milhões que desaparecerão.
Não me parece difícil entender e não só com o recurso a estudos demográficos.
Com políticos assim, até a mim me apetece emigrar.

Comentários

  1. O cómico/trágico da situação é que o sr. Catroga queria criticar todos aqueles que se distraem com "pintelhos" e criou com essa bela tirada um novo "pintelho" para que o povo continue sem saber do essencial:
    -Tendo em conta a população portuguesa activa, os nossos recursos e as nossas responsabilidades, qual vai ser a estratégia e as consequentes medidas para que este país seja sustentável para as gerações futuras, pois para estas que cá estão, nunca o conseguiu ser.
    Sejam, pintelhos, sejam peanuts ou sejam pormenores insignificantes, eles são a desculpa para o obvio: não existe em Portugal uma pessoa que nos conduza ao caminho certo, e cada vez mais somos cada um por si.
    PE

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  2. Pinto da Costa ao poder! E mais não digo para não ter de ser mal-educado.

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