Ich bin ein Berliner

O avião atrasou-se à saída de Frankfurt mas ainda consigo chegar e ver Berlim com uma réstia de sol. Por aqui, a primavera parece ter-se rendido ao verão, e o tempo está fantástico.
O táxi avança pelos bosques verdes e de repente atira-me com o olhar para a nova cidade: o edifício da Filarmónica de Berlim, Potsdamer Platz…
O meu hotel é por aqui e eu não resisto a sair para passear um pouco, afogar o cansaço numa cerveja e aproveitar para comer algo, quiçá uma salsicha.
No meu percurso de não mais de duzentos metros para a Potsdamer Platz, cruzo obrigatoriamente a linha que assinala no chão o local onde antes se encontrava o muro que separava a cidade, e faço-o no sentido da República Democrática para a República Federal da Alemanha.
Apesar de ter tido antes o privilégio de o ter feito em múltiplas ocasiões, não consigo hoje mais uma vez, camuflar a emoção deste pequeno passo que há pouco mais de vinte anos era perfeitamente impossível.
É um passo oferecido pela liberdade, e dou graças a Deus por ele.
Caíram os muros políticos e a Europa já não tem o muro da vergonha, da nossa vergonha.
Avanço e escolho um lugar numa esplanada. A cerveja Berlinense não tarda e afinal a salsicha deu lugar a um hambúrguer.
Estou sozinho e com tempo para observar, porque em relação a escutar, a única coisa que me é permitida, é ouvir as infinitas histórias de um grupo de espanhóis de Múrcia que estão por detrás de mim, e que naquele seu jeito de falar a gritos, exteriorizam a raiva e o desconforto pelo comportamento dos outros colegas de passeio, obviamente os que estão ausentes da mesa, e que com eles viajam pela Alemanha e pela Áustria.
À minha frente á um grupo de cinco jovens executivos, de fato e gravata, ao estilo montra da Boss, bebem cerveja, claro, e riem-se imenso. Estarão por certo na casa dos vinte.
Observo-os, penso no colega que ainda ontem me telefonou desesperado pelo seu desemprego de um ano e meio, e sinto o desconforto dos novos muros da Europa.
Caíram os muros políticos mas ergueram-se os económicos e os financeiros, construídos dos tijolos da incompetência de quem só se preocupa em governar-se, de quem para se governar, cultiva a diferença, de meios e de oportunidades, que tal como as anteriores divisões políticas, nos condicionam e matam a liberdade.
Penso no Presidente Kennedy quando a 26 de Junho de 1963 afirmou junto às Portas de Bradenburgo: “Ich bin ein Berliner” (“Eu também sou um Berlinense”).
Após estas palavras, o outro muro levou vinte e seis anos para cair.
Espero e tudo farei para que os novos muros não levem tanto tempo.
Viva a liberdade.

Comentários

  1. drunk an bier fur me....(acho que é assim ) e viva a liberdade....kusses

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  2. Houve tempos em que um trovador chamado Sérgio Godinho cantou "só há liberdade a sério quando houver, liberdade de mudar e decidir". Um dia havemos de lá chegar...

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  3. A verdadeira liberdade é podermos tudo por nós.
    Ninguém é mais escravo do que aquele que se julga livre sem o ser.
    Rui Pereira

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  4. Sim, eu também gosto muito de bolas de Berlim, com ou sem creme. Mas o Álvaro "coiso" que não se zangue comigo, que também gosto de pasteis de nata, principalmente dos de Belém (sem Cavaco). Só não gosto da Merkel. Aquilo parece um balão mal cheio, desinteressante, esparvoada, anti-climax. É a mulher que qualquer homem dispensaria, por todos os motivos, não fica bem em lado nenhum. Desculpem, talvez fique bem ao lado do Passos Coelho, pelo menos ele esforça-se por ficar ao lado dela. Pronto, chega de mau humor. Gostei da crónica sobre Berlim, uma cidade cinco estrelas.

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