Velha Europa


Do Centro de Congressos de Florença, na Fortezza da Basso, até ao meu hotel, a dois passos do Rio Arno, tenho o privilégio de um fim de tarde muito especial, caminhando tranquilamente por uma das cidades da Europa que carrega mais e melhor história.
Avanço por ruas estreitas de bairros muito populares e chego à zona entre o Mercado de S. Lorenzo e a Igreja dedicada ao mesmo Santo, e Panteão dos Médici, deixando de ver as portas das residências porque o meu caminho fica então ladeado por infinitas barracas de souvenirs, oportunidade para comprar couros e tecidos. Paro para comprar uma T-shirt e o rapaz, de Calcutá, na Índia, aproveita para fazer um estudo de mercado sobre os novos modelos de camisolas para a época de verão. Entre uma bandeira italiana e uma vespa, lá lhe dou a minha opinião, pago a T-shirt e sigo.
Estou a chegar à zona da Catedral, a Duomo, e as barracas já desapareceram, dando lugar a cafés e lojas de marcas de luxo, daquelas em que só nos é permitido desfrutar das montras.
Faço slalom entre turistas do Brasil, do Japão e dos Estados Unidos da América e decido afogar as mágoas num gelado, sem açúcar, num dos restaurantes bem situados cuja esplanada tem vista, tal como o quarto de Forster a tinha também para esta cidade de Florença.
Sento-me com o meu gelado e estou rodeado de Americanos que comem pizzas, bebem vinho tinto e se preparam para concluir a refeição com grandes taças de morangos com natas. Estão afogados em sacos das ditas lojas de marca.
Falam alto, num tom que causa arrepios. Penso:
- Venham os Espanhóis que estão perdoados.
Sigo o meu passeio, chego à Piazza della Signoria continuando o slalom, paro e deito uma espreitadela fugaz ao falso da David, ao jeito de:
- Olá Tio David está bom?
E sigo na multidão até à Ponte Vecchio, entregando-me depois à solidão das estreitas ruas do burgo medieval que me trazem ao hotel, não sem antes resistir a entrar na Iglesia de la Trinitá, procurando um pouco de paz para o físico e sobretudo para o espírito.
Fim de tarde em Florença, nesta Europa transformada num parque temático de história onde são explorados os indivíduos do “terceiro mundo” e a que ocorrem os compatriotas da Fitch e da Standard & Poors para se rirem e gozarem com as nossas caras.
Uma Europa em agonia que legitimamente espanta os líderes que a trouxeram até aqui a um ritmo quase idêntico ao que os pacotes de víveres desapareceram no dia primeiro de Maio das prateleiras do Pingo Doce. A propósito, saúdo o Hollande que fez com o Sarkozy descesse dos tacões que lhe davam uma altura “Bruni”.
Uma Europa onde nós Europeus, secos de Euros e à procura de paz de espírito, jamais nos poderemos deixar secar na garra e na vontade de continuar a nossa própria história de progresso e liberdade, e marcar com sucesso, os dias e o destino.

Comentários

  1. A velha Europa tem que vestir as suas melhores roupas, por as suas jóias, voltar ao seu antigo esplendor para depois descer as escadas com toda a dignidade e olhando para os americanos das agências de rating dizer, "I´m ready for my closeup".

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  2. Mano
    queriDO
    Durante a nossa vida:
    Conhecemos TERRAS que vem e que ficam,
    Outras que, vem e passam.
    Existem aquelas que,
    Vem, ficam e depois de algum tempo se vão.
    Mas existem aquelas que vem e se vão com uma enorme vontade de ficar...
    A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.
    Bom trabalho
    Rui Pereira


    do

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