Morte em directo

Um multimilionário Inglês, vítima de uma doença neurológica que lhe comprometia os movimentos, recorreu aos serviços de uma clínica Suiça, pelos vistos já muito famosa, que o assistiu num suicídio gravado e transmitido em documentário pela BBC no inicio desta semana.
Nesta história polémica e com contornos macabros há desde logo dois pensamentos que me assolam ao espírito: a legalidade / legitimidade da morte assistida e o papel dos meios de comunicação no contexto actual deste nosso mundo.
Relativamente ao primeiro, considero-o uma questão muito sensível, para a qual as respostas se atolam sempre nos terrenos movediços da legitimidade ou não para decidirmos sobre o fim da nossa própria vida ou então sobre a vida de outrem.
Mesmo admitindo que a vivência de diferentes contextos nos podem fazer mudar de ideias, confesso-vos que sou convictamente contra a eutanásia e qualquer forma de legalização da morte medicamente assistida.
Identificar um conjunto de pressupostos a preencher pelos candidatos à morte e fazer deles letra de lei, é algo que como cidadão não consigo aprovar.
Como profissional de saúde, também só consigo imaginar a minha actividade de farmacêutico no sentido de encontrar soluções para a doença que possibilitem uma melhor vida, e nunca soluções que destruam definitivamente essa mesma vida.
Pessoalmente já fui confrontado muitas vezes com doenças difíceis e prolongadas de familiares, ou não tivesse sido a minha casa um ponto de encontro de avós e tios-avós, situações de desfecho de morte inevitável e onde às vezes me questionei sobre se estas situações de dependência total não eram atentatórias da dignidade que qualquer vida nos merece, mas confesso-vos, instintiva e naturalmente, seria incapaz de em qualquer circunstância autorizar a morte de um meu dependente, concentrando antes as energias no sentido positivo da vida.
No entanto, porque respeito as liberdades individuais e porque como já referi admito que as circunstâncias nos moldam o espírito, jamais terei uma atitude de censura perante a decisão consciente de um suicídio.
Relativamente à questão dos meios de comunicação social, tenho que dizer-vos que batemos literalmente no fundo, chegando a territórios de ausência de total falta de dignidade e respeito pela vida humana.
As audiências são o diabo a que os meios de comunicação social venderam há muito a alma, e concretamente a televisão, é hoje a fechadura que nos arrasta o olhar para o que há de mais íntimo em cada um, fazendo disso um pérfido e inadmissível espectáculo de profundo mau-gosto.
E não falamos de um canal qualquer, falamos apenas e só de um canal público, a BBC, talvez a mais conceituada estação em todo o mundo.

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