A festa da primavera

Dizia o meu avô Francisco que desde que o Homem pousou na lua, nunca mais o clima foi o mesmo. Perdeu-se a previsibilidade e alterou-se definitivamente a cadência natural das estações.
Jamais os astronautas terão a noção da sua culpa, mas por este raciocínio, serão eles os responsáveis pela morte dos ditados populares que nos definiam os meses, porque “Março, marçagão, manhãs de inverno e tardes de verão”, é mesmo coisa do passado.
Seja como for, com ou sem manhãs de inverno, impôs-se a tradição do calendário e a primavera começou por estes dias.
Mas, ao contrário de antes, em que a dita começava sempre a 21 de Março e por isso se comemorava o Dia da Árvore, agora sabemos com exactidão o dia, hora, minuto e segundo da sua chegada.
Como se isto fosse necessário, e não soubéssemos nós, os Homens do campo, o exacto momento em que o inverno se despede para uns meses de ausência?
Para além de ser do campo, tive o privilégio de fazer os meus treinos em “Chegadas da Primavera” em Vila Viçosa, o local ideal onde nenhum sentido é descurado.
A primavera cheira à flor das infinitas laranjeiras, à esteva da Tapada, ao rosmaninho e ao alecrim.
Encanta-nos o olhar com a cor da palete das flores do campo, brancas, amarelas, roxas, sempre a acompanhar as rubras papoilas, rainhas nos infinitos campos verdes das searas.
Tem o sabor dos bolos fintos e do folar da Páscoa, do borrego assado, das alabaças, das favas e das azedas mastigadas enquanto entramos campo adentro.
Oferece a disponibilidade de mãos livres e soltas para tactear todo um mundo que nos parece renascer.
Faz-se ouvir pelos grilos, pelo correr da Fonte Pequena e da Praça, pelas andorinhas que se instalam nos Agostinhos e nas torres alvas de todas as outras igrejas, pelo canto e pela fala da gente que sai à rua e faz de cada encontro uma festa.
A festa da primavera de que Vila Viçosa nasceu para ser a pátria mãe.
Viva pois a primavera, viva a vida, e hoje, Dia Mundial da Poesia, e sempre, que jamais morra a voz dos poetas, os mestres e heróis artistas do canto da alma.

Comentários

  1. Do mesmo modo que no início da primavera todas as folhas têm a mesma cor e quase a mesma forma, nós também, na nossa tenra infância, somos todos semelhantes e, portanto, perfeitamente harmonizados
    Menino do panasco

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