Eternidade


No gozo de um privilégio único, abro a porta de casa e saio para a rua que cheira a erva molhada, surpreendido pela intensidade do brilho do sol que em círculo gigante e em tons de entre amarelo e laranja, majestoso, nasce por detrás dos altos montes que no perfil do meu horizonte me enquadram o Cristo Rei.
Pela cumplicidade de azul que o sol revela, jamais saberei dizer se é Tejo ou Mar, a imensidão de água que no cumprimento do mais luso e marinheiro dos destinos, para ocidente me atrai e por impulso genético me impele a desviar para si o meu olhar, enquanto o corpo aquece a cada gole, impulso de gosto e aroma da generosidade de um café.
De onde estou, não vejo a cidade, escondida por Monsanto, mas esta festa de cor traz-me de repente à lembrança, o doce e mágico sabor do presságio das madrugadas de Lisboa, a cidade perfeita, que por esta hora, em namoro de luz, se entrega ao sol que nasce, oferecendo-lhe a mais completa palete de tons claros de ocre e rosa, sob os socalcos definidos pelo tijolo dos telhados na cascata das sete colinas.
Lisboa, nas minhas rotinas da última manhã de Outono e no seu todo perfeito, a revelar-se divina… e a mostrar ao mundo a sua inequívoca marca de eternidade.
Lisboa, hoje e sempre, moura, feiticeira, maga e pitonisa, heroína do destino em canto de fado, lusitano Olimpo a quebrar profecias na real prova de que o mundo jamais poderá acabar.
Nem hoje, nem nunca.
E há ainda tanta vida para cumprir sonhos e sermos felizes…

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