Ao contrário…


Não fosse esta chuva avassaladora a comprovar que em Abril as águas ainda são “mil”, e mais evidente se tornaria a mudança que se assinala no mundo por estes dias. Há mudanças para todos os gostos, para melhor ou para pior, com mais ou menos criatividade dos seus agentes… mas igual é que o mundo definitivamente não está.
Um estudo recentemente publicado evidencia que nos Estados Unidos da América, os hispânicos têm uma esperança de vida cerca de dez anos superior à dos indivíduos de etnia caucasiana. As justificações apresentadas para esta diferença são a alimentação mais saudável e também a vivência activa e a inclusão num núcleo familiar.
O todo-poderoso cidadão made in USA vai ter que aprender a viver com os emigrantes que na maioria dos casos tem ao seu serviço. E a maionese e o ketchup arriscam-se a ser definitivamente derrotados pelo azeite e pelo vinagre.
Mais próximo de nós, a infanta Cristina, filha do rei de Espanha, foi constituída arguida no processo de desvios de verbas em que também está envolvido o seu marido. Se a nível da moral sexual já sabíamos o que gastava esta casta de parasitas “barbies de carne e osso”, ficamos agora a saber que um dia destes, as monarquias terão de solicitar a algum ourives seu fornecedor que combine as algemas com as coroas e os diademas.
E o protocolo? Será que os policias quando forem algemar tão “distintas” criaturas também terão de lhes fazer uma vénia?
É provável que sim. O que está garantido é o nascimento de novos provérbios:
“Rei que vai a África a caçar um elefante, vê a filha condenada como qualquer traficante”.
Nesta onda de criar ou alterar provérbios também parece andar o meu pároco de Vila Viçosa.
No domingo, no inicio da missa, entendeu o padre que a Páscoa justificava que todos fossemos aspergidos com água benta. Com o diácono a segurar a caldeirinha da dita água e o padre a sacudir violentamente o hissope (Manuela e Ricardo, muito obrigado pelas vossas achegas sobre o nome correcto do instrumento metálico) para que não houvesse cabeça que ficasse sem borrifo, houve um momento em que a tampa metálica se soltou voando por sobre a cabeça de um crente já desprovido de cabelo, molhando consideravelmente a criatura mais próxima da violência deste clerical gesto semelhante a um lançamento do peso. E a “presunção e água benta, cada um toma a que quer”, morreu desde logo ali. Pelo menos no que à água benta diz respeito.
Mas na celebração da semana santa em Vila Viçosa até a história da humanidade levou um ajuste.
Sempre ouvi dizer que o hábito de mascar pastilha elástica teve origem na Colômbia e nos índios que mascavam a resina de uma árvore de nome Chicle (acrescentem-lhe o “te” e vejam não vos soa familiar?), mas por certo andei equivocado durante anos pois quando na noite da passada sexta-feira, o pano negro se abriu na igreja de Nossa Senhora da Conceição para nos mostrar a tradicional representação do calvário com figuras humanas e me deparei com um soldado romano com ar sério, mas muito entretido a mascar pastilha elástica, reescreveu-se a história, e quiçá seja possível imaginar que Pilatos tivesse até aproveitado a bacia onde lavou as mãos para deitar fora a sua pastilha.
Neste contexto de mudança, é natural e por vezes desejável que os agentes políticos intervenham, sendo no entanto conveniente que o façam sempre depois de uma atenta e sensata avaliação.
O Ministro da Segurança Social, por certo preocupado pela considerável redução do número de nascimentos, afirmou hoje que vai propor a criação de um estatuto de trabalhador em part-time com o objectivo de aumentar o número de filhos em cada família.
Imagino que esta ideia lhe tenha surgido durante algum chá de caridade com direito a Bridge ou Canasta, ao escutar alguma tia “supé preocupada”:
- “Com as imensas xestas, não tenho tempo pa mas xilhos, nem sequer pos fazer, tá ver? Ah, ah, ah, ah… Caturreira”.
Era só questionar o jardineiro, o motorista ou a mulher-a-dias, e rapidamente concluiria que as pessoas não têm mais filhos porque têm falta de dinheiro e se, trabalhando a meio tempo receberem metade do ordenado, condenar-se-ão definitivamente à esterilidade.
Enfim, estará o mundo ao contrário?
Em mudança está, mas também… parar é morrer. 

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