Cuidados domiciliários


Atacado pela incompetência, mais do que pela invalidez, Portugal é hoje um velho senhor falido que habita o seu castelo com 89.015 km2, para além dos dois anexos algures no meio do mar, gozando de boas vistas e com “salões” carregados de memórias, mas preso de movimentos e com total dependência de terceiros.
Os filhos e netos, a quem entregou por testamento e voto de confiança, a gestão dos seus bens, esbanjaram a fortuna tratando das suas comodidades, e agora, por inabilidade ou má vontade, recusam-se a cuidar de Portugal e recrutaram recentemente os serviços de um prestador de cuidados, um tal de FMI.
Há alguns anos, quando tomaram as rédeas do governo da casa, a coisa animou. Chegou muito dinheiro e restaurou-se o “castelo” para abrir uma espécie de “Turismo de Habitação”. Fizeram-se acessos, pontes, rotundas, parques de jogos e de diversões… Parecia que o futuro estava garantido e que tudo corria sobre rodas.
Mas, rodas, agora só as da cadeira a que o velho senhor está preso, pois os seus descendentes falharam em toda a linha, sobretudo nas contas.
O falhanço não surpreende pois eles nunca foram pessoas muito dadas à formação e aos estudos. Digamos que mais facilmente compram bancos do que fazem cadeiras.
Ainda se tentou vender património, nomeadamente os aeroportos, a água, a luz, a televisão, os aviões… mas foi insuficiente para dar liquidez.
Entregue a gestão da “casa” e os cuidados ao FMI, os filhos e netos aprecem pouco por cá. Passeiam-se por Paris, pelo Brasil, etc. A última vez que deram notícia estavam a passar o fim de ano no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. E em grande, claro.
Agora, assim preso de movimentos e cativo da sua penúria, Portugal entrega diariamente todos os seus parcos haveres, a pobre reforma que lhe resta, e os cuidados domiciliários do FMI encarregam-se de toda a gestão da casa. É um processo do tipo “chave na mão” e serviço completo pois uma das primeiras medidas foi desde logo despedir todos os “serviçais” com funções no “castelo”.
A comida que é servida é pouca e light, com enormes vantagem para o utente pois o excesso de alimentos está associado ao aumento do risco cardiovascular que “entope” os serviços de saúde. Em todas as crises há oportunidades e comer bifes todos os dias só faz mal e traz transtornos.
E por falar em saúde, sempre que adoecer, Portugal terá direito a todos os tratamentos possíveis e indicados, exactamente por esta ordem de prioridades, primeiro, os possíveis, e dentro destes, os mais indicados. Os serviços especializados do FMI encarregar-se-ão de saber quando é que o doente necessita de cuidados especializados, os quais serão sempre ministrados com moderação. E com as respectivas taxas.
A limpeza também está assegurada mas será feita como tudo o resto, nos mínimos e sempre no limite do indispensável. Qualquer serviço extra obrigará a pagamentos suplementares e por certo o pouco ouro que ainda há nos cofres do “castelo” não se quedará muito tempo sem ir beber umas cervejinhas na Oktoberfest.
As últimas avaliações sugerem que apesar de toda esta situação, o “velho senhor” Portugal está lúcido e articula bem o seu discurso na revolta contras os serviços prestados e contra toda a situação em que foi colocado, o que causa por vezes algum incómodo aos cuidadores que diariamente se dirigem ao seu domicílio e que gostam de confrontar-se com mais moderados e pacíficos comportamentos.
Não é pois de estranhar que um destes dias haja uma manifestação de violência do “paciente” mesmo que só com as poucas armas de que dispõe no seu estado de semi-cativeiro.
Não convém esquecer que uma arrastadeira cheia de bostas é uma boa arma de arremesso e que até uma banheira cheia de água pode ter a eficácia de um oceano na hora de afogar um imbecil.

Comentários

  1. PARECE QUE O SALAZAR VOLTO NOVAMETE O
    ONDE ESTAO OS HOMENS DA PIDE
    RUI PEREIRA

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