Um jantar com amor

Não haverá por certo muitas coisas que nos façam desligar de um clássico jogo de futebol entre o Benfica e o Sporting que no final acabou com sete golos, repartidos até de uma forma que me é muito simpática.
Mas se pensarmos numa amizade de trinta anos, daquelas inabaláveis pelo tempo e pela distância que por motivos pessoais ou profissionais por vezes se coloca entre nós, então a mesa redonda que nos reúne aos quatro é de facto muito mais importante do que qualquer golo do Cardozo, por melhor que ele seja.
A Jeropiga vinda directamente da Beira Baixa para nos servir de aperitivo tem um travo doce que alinha com os afectos que os olhares não calam por nos vermos assim neste conforto indescritível de estar juntos.
E há tanto tempo que preparávamos este encontro.
A sopa é de feijão e tem couve e massa, com uma força camponesa e bem Portuguesa que alinha e rima perfeitamente com a força deste gostarmos uns dos outros, ao estilo de impenetrável fortaleza, onde não cabem sequer aquelas “dificuldadezinhas” ridículas que parecem ser sempre inócuas e inconsequentes mas que depois e por efeito de acumulação sempre vão minando e destruindo os alicerces do essencial.
Regado com um vinho tinto do Alentejo que traz com ele o sol, o chão da terra que foi berço da nossa amizade, e esse tudo, e até humor, que nos caracteriza a nós, os Homens do sul, o jantar só poderia mesmo beneficiar dessas tantas gargalhadas que sempre são autênticos foguetes na alegria da festa de estarmos juntos.
Os folhados que combinaram a alheira e os espinafres alinharam totalmente com este hino à tolerância e aos prazeres e benefícios do respeito pela diversidade que tem caracterizado sempre a nossa amizade.
Somos mais ricos quando nos desafiamos e nos obrigamos a questionar as opções. Daí geralmente resultam melhores e mais fundadas opções, passos em frente no crescimento.
E para isso (e muito mais) servem os amigos.
A sobremesa teve marmelos assados que nos trouxeram o Outono até à mesa, alinhados com mousse de chocolate que, juntamente com o café que chegou mais tarde, nos transportou até às terras “estranhas” das viagens que gostamos de compartir; e um gelado de limão, que juntamente com o Limoncello do fina,l foi um travo de frescura como é e será sempre a nossa amizade que se renova em cada encontro, em cada palavra, e às vezes até nos silêncios.
No final comemos castanhas assadas, acabámos a ver fotos de outros tempos e a ler palavras de hoje, alinhando projectos para o futuro pois longa queremos que seja a estrada, o caminho que sempre iremos percorrer em conjunto.     
E quando já tínhamos visto o resultado do jogo e já nos tínhamos abraçado na demonstração de um maravilhoso fair-play, despedimo-nos com esta certeza de que breve se fará o momento do reencontro pois já íamos com saudades.
Permitam-me apenas que partilhe convosco que a palavra mais usada nas nossas quatro horas de jantar foi sem dúvida: amor.
O que comprova que os momentos com o “amor” se sobrepõem até aos hat-tricks do Cardozo, às vitórias do Benfica e são aqueles que contam na nossa afinal tão breve história.  

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