“Antes muerta que sencilla”

Chegar a Madrid e apanhar um taxista Castelhano (e digo Castelhano e não Espanhol porque a unidade política do país vizinho há muito que voou e a unidade cultural nunca existiu) que ao descobrir que somos Portugueses, nos diz que adora Portugal e o bacalhau, não é novidade nenhuma, com a malta a falar das mil maneiras de cozinhar o dito e ele a dizer que o “dourado” é o que mais gosta; mas perguntar pela crise e pela Troika, já encerra alguma inovação.
Sentimos que o taxista puxa por nós para que comecemos a enunciar a longa lista de atrocidades que cometem sobre a lusa nação, mas rapidamente nos apercebemos que o faz para colher algum prazer, assegurando-se que Portugal está no seu sítio habitual: algures pior que a Espanha.
Apetece-me mandá-lo a comer bacalhau ali para os lados de Aljubarrota recomendando-lhe que passe de caminho por uma padaria comandada há sete séculos por uma tal de D. Brites, que diga que vá da minha parte e que ela faça o favor de lhe aplicar a receita que preparou para os inimigos de D. Nuno…
Mas como o rádio nos traz um relato de futebol acabamos a falar do inevitável Mourinho, de quem ele não gosta, claro.
Eu digo que sou fã e pergunto-lhe se a antipatia que nutre pelo Mourinho e a arrogância que lhe atribui, não se deve ao facto de ele ousar falar de igual para igual com qualquer Espanhol, quando não é suposto que nenhum Português o faça.
Finge que não me entende e antes que ele me obrigasse a explicar-lhe o que faziam as Espanholas nos romances do Eça de Queirós, por sorte chegámos ao destino.
E chegámos com o nacionalismo ao rubro.
Antes que a loja fechasse a Catarina mergulhou nos “probadores” do pronto-a-vestir e depois de uma prova em tempo record, venham de lá agora as Espanholas a dizer que são mais “guapas” que as Portuguesas.
“Antes muerta que sencilla” que quer dizer mais ou menos, “antes morta que uma pirosa mal cuidada”, que foi título de canção interpretada por uma criança que encarnava o flamenco, e que é mais ou menos um lema das “nuestras hermanas”, definitivamente não é um exclusivo seu.
A Catarina saiu da loja como uma “Mourinha da Elegância” e bem mais chique que as Castelhanas que se cruzaram connosco na Puerta del Sol e que têm mais camadas de base na cara a tapar os buços, do que anos tem a Sé de Braga.
E saiu uma estrela sem ser preciso recorrer a doping pois enquanto ela provava sempre descobri um segredo escondido das “Letizias” e que consiste num creme com múltiplas funções, mais propriamente 8: alisa, corrige, uniformiza, hidrata, protege, nutre, tem efeito de lifting e acção anti-oxidante.
Um creme 8:1 que definitivamente não deve fazer parte do arsenal de “beleza” da Duquesa de Alva que ainda deve estar entregue aos cuidados do Heno de Pravia ou das Madeiras do Oriente.
O creme a juntar às camadas de base…
Ainda em acto de profundo nacionalismo fomos à loja do Real Madrid a tirar fotos com o manequim do Ronaldo e conseguimos logo que um grupo de Colombianas com umas ancas que pareciam ter sido desenhadas pelo Botero, nos imitassem e desprezassem qualquer jogador Espanhol.
Passei na FNAC e comprei discos de cantautores catalães (toma!) e fomos jantar Gaspacho que é Andaluz e não Castelhano acabando a declamar à mesa em bom Português.
Quando regressámos ao hotel o taxista não abriu a boca e nós também não perguntámos nada pois ainda corríamos o risco de lhe ter que passar a receita do Bacalhau à Gomes Sá ou então explicar-lhe porque é que temos os carros mais caros do que eles.
Preferimos antes mostrar o nosso charme e provar-lhe que para cá de Vilar Formoso é que é: “antes muerta que sencilla”.

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