“Posso dizer uma quadra do António Aleixo?”
No
dia a seguir à apresentação do Orçamento de Estado para 2014 que carrega mais
uma fortíssima dose de austeridade e um novo aumento de impostos, com o Estado
a arrecadar mais 646 milhões de Euros directamente dos meus bolsos e dos meus
concidadãos, desloco-me para o trabalho na companhia das notícias veiculadas
através do rádio.
A
esquerda discute a desistência da CGTP relativamente à manifestação a pé sobre
a Ponte 25 de Abril no próximo sábado e a sua transformação numa excursão de
autocarros com partida de Alcântara, num entretém verbal que se assemelha a um
misto de Festa do Avante e Feira Popular, gentil entretém que o governo por
certo agradecerá.
Esta
desadequação de discurso faz-me lembrar o “Casino Royal” do Herman José quando
a propósito de nada um personagem irrompia numa cena que nada tinha a ver com
ele e perguntava:
-
Posso dizer uma quadra do António Aleixo?
E
já que falamos em quadra, esta não é do Aleixo e não tem a marca da sua genialidade
de mestre, mas é minha:
Viúvas,
órfãos e até reformados,
Não há quem o
orçamento não afronte.
E a solução para
tantos enfados
Parece estar em
passar a ponte.
José
Sócrates, um dos muitos “pais” da crise, afirmou numa entrevista ao Expresso
que é, e cito, “o chefe democrático que a direita sempre quis ter” num
descaradíssimo e despudorado piscar de olho à direita que terá em vista o
aluguer do Palácio de Belém no próximo leilão. Sócrates, o homem que fez exames
por fax em cadeiras ministradas em universidades de qualidade duvidosa, lançará
um livro no próximo dia 23 na companhia de Mário Soares e Lula da Silva, duas
confessas personalidades de esquerda.
Esquerda
e direita… ou a prova da ambidextria política com laivos também de comprovada
esquizofrenia.
E
já que falámos de quadras:
Esquerda,
centro ou direita?
Para o Sócrates tanto
faz.
Desde que a conta
siga perfeita
E mantenha o ar de
bom rapaz.
O
presidente de Angola, um dos homens mais ricos do mundo e líder de um país onde
continua a haver pessoas que morrem à fome, decide pôr fim à parceria
estratégia que mantinha com Portugal pelo facto de alguns altos quadros
Angolanos estarem a ser alvo de investigação pela justiça Portuguesa, situação
que já tinha merecido um subserviente e mal amanhado pedido de desculpas do
chefe da diplomacia de Portugal.
A
reclamada moralidade feita dos imorais, e:
Lá se
foi o petróleo, os diamantes
Mais a fortuna da
filhinha Isabel
Na Avenida nada será
como antes
Porque de Angola se
acabou o mel
E
em tempos difíceis, nem a nossa selecção nacional de futebol se salva (e nos
salva) dando-nos algum ânimo, condenada que está à disputa de um play-off para ir ao Mundial do Brasil.
Paulo
Bento no seu jeito de falar aos arranques e com um ânimo que denuncia a
permanente zanga que mantém com o cosmos, chega à antena e expressa a sua
resignação por este segundo lugar (e que bem que ele conhece os segundos
lugares!) atrás da selecção da Rússia.
Não
sei se ele próprio terá a noção, mas o Paulo Bento é naturalmente o presidente
dos treinadores antónimos do Mourinho, o homem brilhante que paga a factura da
arrogância apenas e só porque nasceu com uma elevada auto-estima num país em
que a norma é ter uma auto-estima ao estilo de Paulo Bento: baixíssima.
E
assim:
Brasil,
de Cabral foi ambição
E para o Bento é uma
miragem,
Está de parabéns a
Federação
Que assim poupa na
viagem.
Fez-se
curto o meu caminho com estas notícias por companhia e chego ao fim da viagem
na altura em que o jornal acaba e entre jingles de publicidade se anuncia uma
rubrica de humor.
Tivesse
tudo isto alguma graça, que não tem, e nós, os sponsors involuntários via Orçamento de Estado até poderíamos prescindir
de tal rubrica.
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