PERMANECER


Com a força com que te quero, escavei a terra e abri valas muito profundas, coloquei uma estrutura em ferro, cimento, e construí os alicerces mais fortes de que há memória; da magia das palavras e dos gestos que me ofereces colhi a inspiração e desenhei as paredes, o telhado, as portas e as janelas, todas com uma vista desafogada para o melhor que a alma pode guardar; pintei de branco a fachada e também lhe ofereci um rodapé azul da cor do Tejo; decorei os recantos ao sabor do desejo, plantei árvores, fiz um jardim com canteiros e centenas de flores; e de seguida, convidei-te a morar no condomínio dos afectos que guardo em mim, nesta casa que é só tua.
Moram aqui todos aqueles que contam para o todo que eu sou, e vivem em casas únicas e intransmissíveis; a tua fica situada na rua que baptizei de Rua da Verdade; uma via principal que cruza com a Rua da Ousadia e a da Liberdade.
Aqui, todas as ruas são largas e permitem dançar à vontade enquanto se caminha ao sabor do riso; os passeios têm bancos de madeira à sombra de uma fé gigante, bancos como fontes onde se descansa, se bebe a paz, e se sonha sem o beliscão de quaisquer fronteiras.
As ruas todas onde passeio contigo, a fé, e os bancos onde nos sentamos nos dias de namorar.
Um condomínio fechado?
Entre a festa e a paz de te sentir a viver aqui, há muitos instantes em que se me despenteia o ar sério ou sisudo, os olhos revelam o endereço deste bairro, e o sorriso denuncia na minha face, o tempo perfeito que vivemos os dois.
Os dias que o futuro multiplicará ao infinito nesta festa de permaneceres em mim, do jeito que só permanecem aqueles que nos constroem.


(“Um mês A GOSTO” / Dia 20 / Letra P / Tema proposto por Pedro António)

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