A BBC fala…

Durante a segunda guerra mundial, um conflito muito dominado pela informação e contra-informação, a mensagem promocional associada à estação estatal britânica era: “A BBC fala e o mundo acredita”.
Recordei-me desta frase há dias quando vi a entrevista de Passos Coelho na RTP e hoje voltei a recordar-me dela quando, mais por fidelidade ao Expresso do que interesse pela criatura em causa, dediquei parte da manhã à leitura da entrevista de José Sócrates, actividade que carrega em si algo de mórbido e masoquista, reconheço.
Em ambos os casos, as afirmações e as respostas dos entrevistados passaram a ser a notícia suplantando as verdades reais e objectivas perante os factos.
Para que “o mundo acredite”.
No caso de Sócrates, a sua imagem de “estadista exemplar” é reforçada por uma crónica da Clara Ferreira Alves, mulher que há muito admiro e que escreve sempre o que primeiro leio da revista do Expresso, mas que desta vez se deixou enredar pelo “eixo da vulgaridade” e… esteve mal.
É que vir afirmar que Sócrates é bom só porque Passos é pior, é quase como afirmar que a SIDA até nem é má uma vez que existe o cancro.
E a Clara Ferreira Alves cai na vulgaridade porque em grande parte a situação de Portugal fica a dever-se a esta tentação de ilibarmos os incompetentes com base na existência de outros que ainda são piores do que eles, jamais abandonado os territórios da mediocridade.
É o contexto em que se festejam vitórias eleitorais à porta das prisões que acolhem políticos que a justiça condenou por corrupção.
Objectivamente, Sócrates é mau porque esbanjou recursos alimentando o seu ego e dando pão às clientelas que o serviam, comprometendo o futuro do país e de toda uma geração que será escrava das PPP’s.
Objectivamente, Passos é mau porque não tem qualquer visão de futuro para o país e carrega em si uma obstinada insensibilidade social que nos porá a todos a pão e água algures num muito curto prazo.
Tudo o mais que ambos disserem um do outro com o patrocínio dos jornalistas em acções de desinfestação de imagem, sobre reuniões em São Bento, telefonemas para a Merkel, pressões e jogos de bastidores, é perfeitamente irrelevante quando comparado com o preço da sua incompetência que todos os meses vem “escarrapachado” nos nossos recibos de ordenado.
O Expresso oferece hoje o quinto volume de uma série dedicada às grandes batalhas da história de Portugal. Este debruça-se sobre o período de 1640 a 1668 e sobre a Restauração da Independência. Foi o que acabei a ler depois da entrevista de Sócrates.
Porque será?
Confesso que a procura de inspiração mais do que o saudosismo que até seria aceitável. 

Comentários

  1. É o que dá termos um povo que se tornou conformado. Onde andam os estadistas e os homens que defenderam a pátria, que nos tornaram e mantiveram independentes, que restauraram cidades após o terramoto?

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  2. O José Sócrates agora aparece em tudo o que é programa da rtp, porque será?
    Anda a preparar mais alguma :)

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