A Síndrome do Testículo


Após ter ouvido o padre da minha paróquia fazer uma dissertação sobre as bênçãos da maternidade e a praguejar contra os homens que na sua opinião querem ser mães, fazendo piadas fáceis e brejeiras com base na herança hormonal dos ditos, num desarvorado exercício científico em territórios da fé, e de mau gosto onde o bom senso deveria imperar, pensava eu ter esgotado aí o aporte de estupidez que o domingo Dia da Mãe me reservava.
Pura ilusão.
Há muito que deveria saber que há sempre surpresas quando nos dispomos a escutar o ministro Paulo Portas.
Entre méritos e deméritos, reconheça-se desde logo ao actual Ministro dos Negócios Estrangeiros, o dom de ser o mais ubíquo dos políticos de Portugal, estando em todo o lado ao mesmo tempo.
É jornalista que denuncia escândalos de políticos mas está ele próprio dentro da política e até se vê envolvido em polémicas como a dos submarinos.
Super fashion, elitista e tio de Cascais, não há no entanto feira por mais popularucha que seja que não frequente sobretudo na fase em que conquista votos.
Católico fervoroso, conservador e grande defensor dos valores da família, apresenta para a preservação da espécie, um contributo idêntico ao do meu assumidíssimo celibato.
E ontem, sendo ministro do actual governo, presidente de um dos partidos que sustentam politicamente o executivo e o relator do projecto que visa reduzir a despesa pública, veio fazer uma conferência em que manifestou algumas posições nos antípodas das do primeiro-ministro num discurso que bem se poderia resumir:
- Passos Coelho, eu não te conheço.
Porque apesar de ser ministro, sabe perfeitamente que estar na oposição implica neste momento uma maior garantia de votos. Até Seguro, sem ideias e sem garra já os perspectiva.
Assim, para além da ubiquidade que o caracteriza e que se expressa mais uma vez na simultaneidade de estar dentro e fora, Portas demonstrou ter sido atacado pela Síndrome do Testículo: participa no acto sexual mas fica de fora.
A designação “acto sexual” não é utilizada aqui por acaso pois em toda esta “revisão” e corte de despesas, há mesmo alguém, a grande maioria de nós, que sai… digamos… lixado.

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