Maio


Jamais adormecido me apanhará o raiar do primeiro sol de Maio, porque é, e será sempre eterna a voz da Tia Maria a despertar-me no silêncio da madrugada:
- Acorda. Não deixes entrar o Maio!
Não deixar entrar o Maio ou… não dispensar o privilégio e a bênção de o ver nascer.
E assim, o primeiro raio de sol celebrado à janela que mira a oriente, com a simplicidade de um cálice de Porto e uma Broa de Azeite.
Maio, maduro Maio, madura primavera que enche de flores o campo, o fruto que o verão um dia irá colher.
É preciso ser assim, senhor da terra, mestre do campo, povo simples, para saber entender Maio e com ele brindar à vida… e ao pão.
Cheira a tílias no Mercado, a laranjeiras na Praça, caiem amoras maduras no Rossio, há hortênsias em vasos na placa da Fonte, amores-perfeitos nos canteiros da Avenida, e breve, muito breve, Maio trará o gosto do primeiro tomate tornado uma fresca salada, esse gosto que é o meu eterno prenúncio do verão que trará os calções e as brincadeiras ao luar por entre as cadeiras baixas postas à porta pelos vizinhos na doce partilha dos alegres serões.
Nos campanários repicarão os sinos ao fim da tarde, porque Maio tem flores e é de Maria.
Senhora, Esperança Nossa, profunda fé de todos os Homens celebrada em Rosários cantados por sobre as calçadas adornadas com flores do campo e onde o perfume a rosmaninho se impõe claramente à nobreza de qualquer incenso.
Maio da vida.
Maio da fé.
Maio de amor, nesses beijos, tantos, vividos nas noites abençoadas pelo doce regresso do teu olhar que se entrega ao meu.
Maio, também, do trabalho, da luta e da dignidade dos anónimos heróis que pela arte e suor, afincadamente, constroem o futuro numa herança de vida legada à humanidade.
Que nunca te matem, meu Maio. Que sejas sempre assim, florido, e que o teu raiar que desponta na mais doce madrugada, “pinte” de esperança, profunda bênção de alma, a vida de quem te vir e te fizer nascer.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O MUNDO MAIS BONITO E CONFORTÁVEL NUM TEMPO A CHEIRAR A FLORES

“Quando mal, nunca pior” ou a inexplicável rendição à mediocridade

TESTAMENTO DE UM ANO COMUM