Campanhas alegres num país triste


Criatura há muito desligada das notícias e que aterrasse agora em Portugal disponibilizando-se para circular nos espaços públicos, por certo apostaria convictamente que o país se encontrava numa fase muito positiva rumo a um futuro de grande sucesso.
Excluindo algumas muito raras mensagens de protesto, Portugal está desde já inundado de cartazes que publicitam os candidatos para as eleições autárquicas que decorrerão algures no próximo Outubro.
E as mensagens prometem o paraíso no já costumeiro jogo do “vale tudo” que tem por objectivo manter ou conquistar o poder.
É claro que o poder apenas pelo poder e pelos benefícios próprios que ele carrega para quem o exerce pois o bem-estar dos cidadãos (eu sou dos que nunca chegarão a Presidente da República pois não digo “Cidadões”, para além de comer Bolo Rei de boca fechada…) esgota-se nas mensagens promocionais destes cartazes.
Depois de já ter sido confrontado com estas acções em muitos sítios por onde passei, hoje de manhã deparei-me com um mar de cartazes relativos à "Batalha de Oeiras".
Com o actual Presidente da Câmara (que se recusa a ser ex-presidente) preso por corrupção, nada mais oportuno do que candidatar ao cargo um ex inspector da Judiciária que entre telenovelas e outros escritos já governou o Município de Santarém que muito na moda anda a “dança das Cadeiras”.
Para o ajudar nesta tarefa coloraram-me mesmo à porta uma gigante e sorridente Catarina que é adjectivada de “nova” e que pela forma como sorri expondo a sua imaculada "cremalheira", das duas, uma: ou é estúpida ou masoquista.
A roubarem os seus avozinhos nas reformas, com os papás despedidos ou em vias disso, com a perspectiva de ter de emigrar para sobreviver, a "imbecil" rirá de quê?
Ou foi o publicitário que se esqueceu que a malta não anda muito para sorrisos dos políticos ou sorrisos vindos da parte deles?
Não há por aí ninguém com o bom senso de calar as “violas” no “enterro” adequando as mensagens ao estado de alma dos votantes e respeitando as suas “dores”?
Por outro lado, conhecendo eu por profissão o preço da rede de outdoors do país, posso afirmar que entre indivíduos e sociedades são os partidos políticos que melhor e com mais desafogo vivem no actual momento, o que não deixa de ser estranho pois são financiados por dinheiros públicos retirados aos cidadãos a quem impõem uma férrea austeridade.
Os partidos políticos… para além dos bancos. Mas também nunca saberemos onde acabam uns e começam os outros.
Pelo ridículo das mensagens que pretendem fazer de nós algo pouco menos que “estúpidos” e por este custo exorbitante, pornográfico e despudorado das campanhas por nós indirectamente patrocinadas, afirmo aqui que me sinto agredido por todo e qualquer cartaz desta natureza com que me depare nos próximos meses.
Mais, não responderei por mim se alguém em plena via pública ou local onde eu passe me fizer a entrega de uma esferográfica, isqueiro ou avental de campanha.
Na difícil escolha para o voto que terei de fazer elegendo o menos medíocre do boletim prometo brindar qualquer candidato que use de discrição e de bom senso nesta campanha.
Sim, eu sei, arrisco-me a ter de votar em branco.
Mas como eu sou Magrebino, segundo um reputado deputado da nação e candidato pelo PSD à Câmara de Gaia que ontem a propósito da vitória do Porto no campeonato publicou no Twitter “Magrebinos: curvem-se perante a Glória do Grande Dragão”, o meu voto deve contar muito pouco.

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