O dia do meu regresso à escola

Há momentos que nos abraçam, colando-nos à doce e mágica sensação de que a vida valeu, e vale a pena.
Ao fim de trinta anos voltei hoje à minha Escola Secundária Públia Hortênsia de Castro, em Vila Viçosa, para falar com alunos e professores sobre o meu livro “Pomar das Laranjeiras”.
Um privilégio num cocktail de sensações.
Desde logo a gratidão. O espaço está diferente, irreconhecível, mas aquela será sempre a “casa dos meus mestres”, os heróis professores que me ensinaram a ser melhor e a quem estarei eternamente grato.
A saudade dos colegas que tal como os alunos de hoje, se juntavam comigo em grupos para conversar e partilhar sonhos no planear conjunto dos dias do futuro.
O conforto de me sentir entre os meus mesmo não reconhecendo a grande maioria dos rostos daqueles, muitos, que se dispuseram a interagir comigo. Há uma terra de afectos que nos une para além deste falar cantado e dolente que é a nossa indiscutível marca de alentejanos.
Perdoem-me a imodéstia, mas senti orgulho pelo conteúdo da bagagem neste meu regresso após trinta anos, orgulho pelos frutos colhidos na fertilidade dos talentos postos a render.
No espelho da inevitável auto-critica gostei do Joaquim Francisco que voltou.
E o “Pomar das Laranjeiras” cumpriu a sua missão de partilha de uma herança que nasce das memórias e tem raízes na verdade da minha história que tem a bênção da simplicidade, dos afectos e da fé.
O texto imaculadamente lido pela voz de uma aluna que desconheço mas que por certo será filha de algum colega que comigo frequentou a escola, desde logo ganhou um novo sentido.
Espero voltar mais vezes.
A determinada altura da conversa, uma aluna perguntou-me se eu não temia vir um dia a perder a inspiração.
Nunca tinha pensado nesta situação, mas se tal acontecer, agendarei uma nova conversa que me permita regressar mais depressa.
A vida, colectânea de momentos, é sempre melhor quando vivida assim entre os amigos na garantia da melhor inspiração.

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