A razão entre mim e…


Há sempre aquele laivo da razão que espreita por entre os sentidos e me chama tonto, naquele momento em que vejo uma flor, e não resisto a fotografá-la para mais tarde, por cima dela, eu escrever doces palavras de amor.
E chamo-lhes de amor, por serem para o meu amor, colhidas como são daquele jardim de pensamentos eternos e bons que cruzam comigo os dias e viajam pelas ruas da cidade.
A maldita da razão faz-me olhar às vezes para o retrovisor do carro e chama-me tonto por me ver ali sozinho e a sorrir daquela maneira.
Quando isso me acontece, logo exorcizo tal juízo e fazendo do volante uma improvisada bateria, marco o ritmo que acompanha a voz numa canção...
De amor, pois claro, que mais poderia ser?
E aí penso tantas vezes como foi possível o poeta lembrar-se daquilo que efectivamente sinto, e fazer disso letra de canção.
Até posso chorar, mas quando me chega à boca o gosto a cloreto de sódio, lá vem outra vez a razão:
-Olha, olha... o tonto a molhar as barbas brancas e a chorar aqui ao volante.
Abro o vidro, deixo entrar o vento que já traz ar com cheiro de Outono e uma brisa fresca.
Penso no meu amor que adora esta estação e, parado no semáforo, sonho agora com aquele fim-de-semana em que partilharemos uma manta, beijos e palavras num fim de tarde no Alentejo.
Mas a razão ataca de novo e apita atrás de mim.
Avanço.
Sinto fome e penso numa Bola de Berlim.
As Bolas de Berlim são o bolo preferido do meu amor.
A razão diz que é um bolo pérfido e faz-me coçar a barriga que está maior.
Bolas...
Menos mal que a viagem está a chegar ao fim.
Muito sofre um apaixonado quando a razão não desiste e passa a vida a intrometer-se entre mim e... mim.
Mas sem sucesso, está bem de ver; afinal, não há razão que seja capaz de incomodar um amor assim.

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