A poesia

Sorrio à manhã que me traz uma leve brisa de mar em rima com o sol que se espreguiça e levanta por detrás do Cristo Rei.
Há um canteiro de sardinheiras que ainda transpiram e denunciam a rega que as alimentou durante a madrugada mas o aroma que tempera o ar de flores vem da alfazema disposta em ilhas de tom lilás.
Respiro e abençoo a vida no trautear instintivo de uma cantiga que dispensa letra e é cantada ao jeito de assobio.
Em coro e num improvisado dueto, junta-se a mim então um grilo que viverá algures nessa bênção campestre de um canteiro na cidade.
O café completa-me o despertar, saboreio-o enquanto ao longe vejo e sinto a paz azul do Atlântico, e de palavras e sorrisos se faz o momento de afectos com os anónimos que a confluência de hábitos transforma nos meus fiéis cúmplices de todas as manhãs.
E sempre com o olhar fixo no mar, faço-me ao caminho…
É o mar que me traz os teus olhos e me atenua estas saudades que jamais irei matar em mim.
Afinal, as saudades são o que de ti tenho mais próximo e mais meu.
As saudades e os sonhos que sempre pela noite e quando a lua sorri ali para os lados da Penha, me fazem abraçar a ti.
Abençoada ilusão.
Será a ilusão ou será o real e doce gosto que têm os dias, aquilo que me faz pegar numa caneta, e pelo rabisco das palavras perpetuar o momento de uma manhã assim assaz perfeita.
E quando leio e releio as palavras, quando busco a métrica da verdade que elas dão ou não ao sentir da alma, descubro-te.
Existes desde a nascente do meu ser até à foz de onde emergem e fluem essas palavras.
És tu: a poesia.
E és assim tão-somente, a vida... e o amor.
Hoje, uma simples mas perfeita manhã de verão.

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